quarta-feira, março 23, 2005

O destruidor de mitos

Batota? Peço desculpa. Não fiz sem querer.

Acho que tens de aclarar um pouco as tuas ideias. Quer dizer, sinto que tens uma ideia sobre a vitória eminente da desordem sobre a ordem (o que é bem possível), mas não és muito claro, e até te tornas incoerente.

Primeiro, a entropia é um conceito sobre o natural, o inamovível, o morto. Se eu juntar dois líquidos diferentes, a dinâmica resulta na "vitória" da entropia, até à homogeneização total (entropia absoluta). Até aqui tudo bem.

O problema é quando metes a arte neste assunto. Dizes que a arte decai (!), do que depreendo que a cultura também (!!). Se isto for verdade então concluo que já fomos uma civilização com uma cultura extraordinariamente superior à que temos hoje (tendendo para o infinito na direcção do Big Bang), e que a complexidade (que é o inverso conceptual da entropia) tem vindo a diminuir inexoravelmente.

O contrário faz parte da história. E isto graças à memória e ao encontro. Estes dois conceitos são os fundamentais! São eles que incentivam o desenvolvimento seja do que for. Sem saber de onde vimos, obviamente tendemos para a entropia. Desgastamo-nos e perdemos a nossa própria identidade, razão de existência. No fundo, perdemos a nossa memória e o encontro (com o outro)!

Obviamente que não sou o mesmo que o meu Pai, mas entropia não quer dizer apenas mutação, quer dizer sobretudo decaímento, desgaste, homogeneização, neutralização. E não me revejo nesse "decaímento", logo não me revejo na entropização. O que seria APRENDER, então? Como explicas o próprio conceito de aprendizagem dentro da tua teoria da entropia?!?

No ponto 2 dizes que as representações seriam, de acordo comigo, mentiras! Sim, porque tu não tens papas na língua, a tua orientação implacável. Esqueces-te (problemas de memória) que eu sempre gostei de citar Picasso pela sua irremediável verdade: "A arte é uma mentira". Todo o artifício é arte, logo tudo o que é Humano é mentira. Hummmmmmmmm. Será? Este é um tema complicado. Adianto-te que no entanto a mentira não teve sempre a designação de "não verdade", a palavra começou a querer dizer "efémero". Tudo o que era pouco duradouro era "mentira", ou seja de pouca confiança para tu depositares lá seja lá o que quiseres. Verdade queria dizer "duradouro". Não é por acaso que os hebreus aludiam às rochas para significarem a verdade. A verdade é como tu dizes uma coisa universal, e portanto duradoura. Imutável. Eterna. Não posso por conseguinte dizer que o que eu digo é definitivamente verdade. Não o que EU DIGO, pois o que eu digo é... uma expressão. Um quadro. Subjectivo. Conjuntural. EFÉMERO. E no entanto haverá lá dentro coisas que fazem parte do ETERNO. O qual acredito que exista!!!

Tu és livre de no entanto pensares que dizes ou pensas a "tua" verdade (como se tu existisses em ti próprio, dentro de ti, whithin you, então esqueceste-te de Nietzche? Ele desfazer-te-ia!!), ilusão completa pois nós somos terrivelmente condicionados pelo que nos rodeia e a única exclusividade nossa nem é o nosso próprio pensamento (bricolage constante de coisas que já lemos, que memorizámos e que ligámos) mas sim as decisões que tomamos.


Quanto à revolução ouso dizer que tu pensas revolução, dizes revolução mas o que estás mesmo à procura é de um desígnio. Desejo de uma vontade concreta de uma ideia perfeita. Aliás, só um perfeccionista gosta de revoluções (e aqui não te reconheço como). As revoluções mas também as PERTURBAÇÕES (que são diferentes) são interessantes porque marcam pessoas. Mudam toda a conjuntura do mundo, possibilitando duas coisas extraordinárias: encontros diferentes com pessoas que nunca na vida pensarias "encontrar-te"; e um confronto com a vida. É esse confronto com a vida que te fascina numa revolução e não tanto a revolução em si. Como seria a nossa vida se? "Vivemos em tempos extraordinários"...

E dizer que todas as lutas sociais foram "revolucionárias"... é uma figura de estilo. O personagem que talvez tenha tido mais impacto na América sobre os direitos civis foi Martin Luther King jr., que nunca revolucionou o mundo. SERVIU nele. Segundo as regras dele. Ele "revolucionou" por dentro. Mudou o sistema não como um reset mas funcionando COM ele para melhorá-lo.
GHANDI.
Outro exemplo é o do NEO no matrix. NEO "revoluciona" não tanto destruíndo o sistema que as máquinas criaram, mas fazendo a sua escolha DENTRO do sistema. Porque acreditava. "E é a fé que nos salva".

Em relação à nova revolução que tá praí para vir, pois tábem. Também acredito que sim. Há quem tema também uma nova idade média. Mas a história nunca se repete... veremos!!

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