Mostrar mensagens com a etiqueta masturbações intelectuais. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta masturbações intelectuais. Mostrar todas as mensagens

domingo, julho 11, 2010

Desafio

Tenho um desafio para vós.

Imaginem o seguinte cenário: vocês não me conhecem. Não sabem quantos filhos eu tenho.

Eu digo então: "Eu tenho dois filhos". E digo ainda mais isto: "Um deles é masculino"


Qual é a probabilidade do outro ser feminino?

(Preparem-se para o mindfuck do exercício)






Bónus: coisa bonita

quarta-feira, junho 16, 2010

Bom enfim, é bom ver que as pessoas seguem com a sua vida e que em seis meses pode acontecer tanta coisa de bom. Eu por mim, sei que também teria algo ou mesmo muito a contar... nada que não se saiba factualmente, falo no entanto dessa coisa que é a experiência pessoal, a memória subjectiva que trago comigo dos eventos que têm passado nos segmentos temporais definidos por "últimos meses"... mas não o consigo. É como se ainda não estivesse perante o tempo permitido à síntese, e qualquer coisa que eu diga sobre o assunto não me serve como genuíno, e portanto é inútil, fútil, desperdício de palavras.

Leio dizer que às vezes basta um segundo de clarividência. Bom. Tenho a esse respeito não uma teoria mas uma confusão de ideias sobre o que se passa nas nossas cabeças, e sei que por vezes, se não todas, as nossas memórias das experiências dominam a nossa percepção da realidade, porém no entanto, só nos resta essa mesma. A constante é assim o auto-engano, a ficção que contamos a nós próprios intuitivamente, inconscientemente, uma história escrita em palavras visuais ou odoríferas, hormonais talvez, não sei a linguagem do cérebro. Mas a própria palavra é errada "engano". Não é engano, pois a palavra pressupõe que há algo que a contraponha, que não seja ficção, que não seja "engano". Mas aí é que reside a monstruosa perplexidade: tal referência não aparenta existir! Chamemos-lhe "história", portanto. Restam-nos as histórias.

Lamento ainda não ter uma para vos entreter.

segunda-feira, junho 14, 2010

Livro Negro


1) Vida é a grande indulgência - morte, a grande abstinência. Portanto, faça o melhor da vida - aqui e agora!

2) Não há nenhum céu de glória radiante, e nenhum inferno onde os pecadores queimam. Aqui e agora é nosso dia de tormento! Aqui e agora é nosso dia de júbilo! Aqui e agora é nossa oportunidade! Escolha

você este dia, esta hora, sem nenhum redentor vivo!

3) Diga dentro do seu próprio coração, "Eu sou o meu próprio redentor".

4) Impeça o caminho daqueles que oprimem você. Deixe aqueles que planejam contra ti sejam lançados

atrás em confusão e infâmia. Deixe-os serem resíduos antes do ciclone e depois eles sucumbirem na

exultação de sua própria salvação.

5) Então todos os meus ossos dirão desdenhosamente, "Quem é como eu? Não tenho sido forte contra meus

adversários? Não tenho libertado a mim mesmo pelo meu próprio cérebro e corpo?"


Parte IV Livro de Satã - Biblia Satanica

quarta-feira, março 25, 2009

Atenção aos 4 cavaleiros do apocalipse!




Daniel Dennet, Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris. Atenção a estes tipos, que para além de fazerem grandes estragos, são bastante engraçados. Especialmente o terceiro da lista.

Se quiserem depois coloco aqui alguns best-of.

segunda-feira, março 09, 2009

Bauchelard vs Séc. XXI

O solipsismo do poeta enclausurado na cabana da montanha, no seu sopé, envolto no inverno a ler Bachelard ou Elíade, enquanto inspira o espírito onírico do ópio está carregado de nostalgia. O ventre que se encolhe para aconchegar o seu fruto, a casca que protege a noz, do cosmos, do furioso não-ser, do vazio. Neve, símbolo do inanimado, da morte, intensifica ainda mais o significado íntimo da cabana, do seu calor. Da suas paredes grossas e opacas. O lar que aquece o interior carregado de memórias.

Por outro, a transparência. a ausência de grossura, a determinação das formas pelo mínimo que se lhes exige, e pelo máximo que a sua tecnologia permite. O mínimo. Urbanidade, Cosmopolita. O cosmos enquanto casa, os céus controlados e determinados pelo ser que o habita, sem necessidade de se encolher. A não-identidade, fluidez, amálgama de várias células que deixaram de ser autónomas. Cidade onírica que substitui o ópio. E que exige que o solipsismo. Seja obsoleto.

segunda-feira, outubro 29, 2007

A mente Paranóica

Existe uma determinada característica do Homem que me fascina. A paranóia.

O paranóico é aquele que inventa causas ou ligações onde aparentemente não existem, apesar da falta de qualquer sentido ou senso comum, ou provas até. Por muito que se coloquem factos à sua frente, estas mentes não abdicam da sua lógica, criada instantaneamente e logo colocada acima de qualquer dogma. São pessoas que olham para a realidade pelos olhos do seu dogma instantâneo, encontrando sinais em toda a parte da confirmação da sua teoria, ignorando todos os sinais contrários. Quando toda a sua teoria não se encaixa na teoria geral do conhecimento humano, não é o primeiro que está errado, mas o último. Há que reescrever toda a enciclopédia para encaixar o seu regurgitamento mental.

Por exemplo, existe um lunático, "brilhante" e "génio incompreendido" para alguns, que diz que a Terra não possui placas tectónicas nenhumas, e que o que acontece é que a Terra "expandiu" nos últimos milhões de anos.



Mas de onde nasceu toda a massa? Inexplicável? Népias. Se a física actual é incompatível, não se deite a ideia brilhante fora. Deite-se mas é a física, porque nós somos brilhantes e sabemos mais do que várias gerações de milhares de cientistas:

    "I thought, you know, there must be a theory out there that explains that and that's how I'll start my little adventure. I will try to explain how it's possible for earth to grow by taking out books that everybody else has and reading them and trying to find theories that might explain this"

Outra característica presente é a cabala. Imaginem uma sociedade totalitária a lavar constantemente a mente das pessoas, e vejam o mundo em que estas pessoas vivem. Pouco importa se as suas teorias são ridículas ou não se sustêm na comunidade científica. Se as ideias não vingam, nunca é por serem idiotas, mas por causa do "sistema". Existe, por exemplo uma comunidade de pessoas que clamam que o 11 de setembro foi causado pelo próprio governo dos EUA.

Existem já imensos sites sobre a conspiração "do século":

http://www.911truth.org/
http://wearechange.org/
http://www.911research.wtc7.net/
http://www.stj911.org/

... e até um filme sobre o incidente. (Não o vejam, excepto se tiverem uma hora e meia para desperdiçarem na vossa vida, nem eu o fiz):



Pouco importa se todos os argumentos falham no escrutínio rigoroso da ciência, se existe uma explicação muito mais simples (os aviões colidiram, os prédios caem, ponto), o que importa é criar um ambiente de suspeição, introduzir segmentos históricos irrelevantes e fora de contexto, pegar em ideias pré-concebidas. São pessoas para quem a dúvida metódica se aplica à teoria e explicações de todos os outros, excepto da sua. Quando se lhes aponta esta falha, a réplica não se faz esperar, nós é que não estamos a ver, estamos vendidos ao "outro lado", lavados cerebralmente, ou simplesmente, cegos, ingénuos. Estamos a ver, estamos. Simplesmente, é que depois de o vermos, definitivamente, não queremos mais disso.

São pessoas para quem a sua "verdade" é a patriota, a voz da liberdade, e por isso fazem tudo para parecerem os mártires da geração mais aborrecida da história da humanidade, e o resultado é a palhaçada que se vê a seguir (hilariante). Bill Maher (o senhor à direita no vídeo) é um conhecido cómico político dos EUA, esquerdista e anti-Bush, mas que não está para idiotices como esta:



A sua existência deve-se a uma deturpação do espírito crítico e céptico da ciência. Uma paranóia mal amestrada.

Excesso de imaginação.

Ou será que os Fantasmas, Espíritos, OVNIS, as telepatias, as experiências extra-corporais existiram (e existem) mesmo, e o mundo apenas tem seis mil anos e vimos todos do planeta Zork?

terça-feira, setembro 04, 2007

Lasciate ogni speranza, voi ch'intrate.

"Por mim se vai à cidade dolorosa; por mim se vai às penas eternas; por mim se vai junto da gente perdida. A justiça moveu o meu supremo autor fizeram-me a divina potestade, a suma sapiência e o amor primeiro (o pai, o filho e o espirito santo). Antes de mim coisa nenhuma foi criada. A não ser o eterno, e eternamente existirei: vós que entrais, abandonai toda a esperança."

Estas palavras sombrias vi escritas sobre uma porta e disse "meu mestre, não apreendo o seu significado" E ele, como homem clarividente, assim me respondeu "deve aqui deixar-se todo o receio; aqui deve morrer toda a baixeza. Chegámos ao lugar onde te disse q verias a gente condenada que o bem do espírito perdeu." E depois de sobre a minha pôr a sua mão, com o rosto alegre, que me reconfortou, introduziu-me nas coisas secretas."

In :
A divina comédia, O inferno, inicio do canto III, Dante Alighieri

A Obsessão

estava para aqui a pensar com os meus piolhos... nunca postamos nada do Grande livro...


"E quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas na água. Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo. Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino. E Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e desde aquela hora, ficou o menino curado" - (Mateus, cap. 17 - 14 a 18).

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Desabafo da Máquina

Uma percepção invade-me sempre a minha mente, aparentemente eterna sorvedoura de material de pensamento, sempre intrigada com possibilidades e receios, oportunidades e loucuras. Como separar o trigo do joio? Será a visão do todo separada da minha visão pessoal irremediavelmente? Deverei evitar qualquer discernimento sobre o mundo? Concentrar-me sobre o "inner-self", este mundo tão "belo", numa orgia masturbatória que se escape às diatribes conspiracionistas de outro modo inevitáveis?

Pergunto-me. Será o mundo intocável, impenetrável, diferentes cubos para diferentes pessoas, a cada um a sua lógica pessoal? A cada um a sua liberdade? E para quê esta liberdade toda? Qual a sua função? O que nos permite ela fazer? Foder a vizinha sem preocupações posteriores?!?
E se a cada um a sua vida, restar-nos-á apenas as nossas memórias da infância inexistente como literatura possível? A máxima tolerância pelo outro acoplada à mínima atenção, reconhecimento da verdade do outro?

Existirá a verdade? Como separar a teoria mais realista e confiável da pura especulação conspiracionista? Pensem um pouco nisto. Sempre se vê a lição do Pedro e do Lobo como uma questão moral que se impôe ao Pedro, mas ninguém se pergunta sobre a lição que a sua aldeia não retirou: como discernir entre a partida e o relato desesperado?

Será a visão de Einstein e de Darwin assim tão "verdadeira" como isso, o que as separa da ficção?!?

Vejamos a sociedade por este prisma. Pedros não nos faltam, acossando-nos constantemente sobre os perigos iminentes, escândalos políticos ou judiciais, fraudes gigantescas, big brothers mundiais que nos controlam e escravizam, um planeta inteiro engrenado na auto-destruição.

Como não poderia a enorme aldeia das massas se alienar com tanto barulho? Tanta idiotice à volta de um "problema grave de saúde pública" como o aborto, quando morrem por dia tantas mulheres em acidentes de automóvel como por ano por causa do aborto?
Problema de saúde pública? Tão problema como a Gripe das Aves, que é A doença menos mortífera do mundo alguma vez conhecida (e vejam a mediatização...)

Tanta idiotice à volta do caso Camarate, Casa-Pia, Apito-Dourado, raptos ou adopções de sargentos bem intencionados?!?

Tudo isto enquanto há guerra? (e onde o referendo sobre a nossa participação na invasão?) Tudo isto enquanto há milhões de pessoas a morrer por falta de condições? (Lá vem ele!) É verdade, porra. E o que fazemos nós? Que mundo desejamos, desejamos, construir? Palavra chave: desejamos... Desejamos ainda seja o que fôr?

(Who cares?)

Como não poderia a enorme aldeia das massas gostar tanto de futebol, de vinho, de sexo e noites para esquecer?

segunda-feira, janeiro 15, 2007

A vida como ela é

Se o titulo parecer ao (in)desejado leitor um bom spot para um anuncio de telemóveis, desenganem-se. Venho por este meio hje reflectir sobre certezas. Quando era miúdo os meus pais ensinaram-me que certas coisas na vida eram certas. O sol nasce todos os dias, o tempo passa mais depressa quando estamos ocupados. Comer muitos chocolates faz doer a barriga, e ensinaram-me a perceber muitas outras coisas que me rodeavam, e tomar os pequenos factos da vida como coisas certas e inalteráveis, as 7.35 imperativamente o despertador da vizinha do lado toca seja dia de semana, sábado, domingo ou dia feriado (sim! A qualidade de construção abunda no meu prédio), aos sábados sai o jornal, e o almoço de domingo é com toda a família reunida de volta de um cozido á Portuguesa. Na infância as coisas são certas, ñ existe volta a dar. Ser pai é dar segurança… mesmo q seja num mundo pintado a lápis de cor.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

A prova de Deus

O livro que abaixo critico (quase) propõe uma prova de que Deus existe. Apresento uma outra prova, bastante semelhante, mas de que não existe. Vem de "Hitchhiker's Guide to the Galaxy", e parece-me fazer bastante sentido (ou não! ou diria, tanto como!). O argumento começa com um peixe especial que existe na galáxia, um Babel Fish.

"The Babel Fish," said The Hitchhiker's Guide to the Galaxy quietly, "is small, yellow and leech-like, and probably the oddest thing in the universe. It feeds on brainwave energy received not from its own carrier but from those around it. It absorbs all unconscious mental frequencies from this brainwave energy to nourish itself with. It then excretes into the mind of its carrier a telepathic matrix formed by combining the conscious thought frequencies with nerve signals picked up from the speech centres of the brain which has supplied them.The practical upshot of all this is that if you stick a Babel Fish in you ear you can instantly understand anything said to you in any form of language. The speech patterns you actually hear decode the brainwave matrix which has been fed into your mind by your Babel Fish.

"Now it is such a bizarely improbable coincidence that anything so mind-boggingly useful could have evolved purely by chance that some thinkers have chosen to see it as a final and clinching proof of the non-existence of God.

"The argument goes something like this: "I refuse to prove that I exist", says God, "for proof denies faith and without faith I am nothing."
""But," says Man, "the Babel fish is a dead giveaway isn't it? It could not have evolved by chance. It proves you exist, and so therefore, by your own arguments, you don't. QED."
""Oh Dear," says God, "I hadn't thought of that," and promptly vanishes in a puff of logic.
""Oh, that was easy," says Man, and for an encore goes on to prove that black is white and gets himself killed on the next zebra crossing."

Moral da História:

"Most leading theologians claim that this argument is a load of dingo's kidneys, but that didn't stop Oolon Colluphid making a small fortune when he used it as the central theme of his best-selling book Well That About Wraps It Up For God."
"Meanwhile, the poor Babel fish, by effectively removing all barriers to communication between different races and cultures, has caused more and bloodier wars than anything else in the history of creation."

A fórmula de Deus, ou, The Last Question?

Acabei de ler o livro "A Fórmula de Deus" do nosso Dan Brown Português, o José Rodrigues dos Santos. Não lhe chamo Dan Brown a pensar nos meios sujos e mentirosos que o americano usa para os seus próprios fins, mas porventura pelo estilo e pela mística envolta num mistério que apenas no último minuto se desvenda. Sem falar claro do eterno problema da criptografia, tema transversal a estes dois autores, pelos vistos. Matrioskas...

Gostava de dizer que o li num ápice. Não porque era bom, entenda-se. De facto, dei por mim a passar ao lado das descrições aborrecidas que mais dão a sensação de terem sido colocadas por enfado e obrigação do que contribuírem significativamente para a história. Todo o leitor menos distraído deve ter reparado na repetição amadora com que o escritor faz primeiro uma análise sensitiva de um espaço para depois, distraidamente, e como quem não quer a coisa, há alguém que lança uma pergunta no ar (ahh) "alguma vez esteve no Cairo?". Estupidificante. Mas enfim. O que é facto é que Rodrigues dos Santos é um jornalista inteligente, e o conteúdo filosófico / cientista / teológico do livro é suficientemente interessante para manter o leitor intrigado, com uma revelação sempre ao virar da página e uma cifra colocada pelo próprio Einstein, profeta dos tempos modernos.

Tem, no entanto, erros crassos. O primeiro é o de não olhar a meios para atingir os seus fins. A ideia de que a prova da existência de Deus existe é, em si, absurda. Mas mesmo que existisse, ela nunca poderia depender da "sorte da lotaria", seria estarmos a depender outra vez do "Deus das Lacunas". E este é precisamente o ponto fraco do livro, o ponto em que o autor concebe um cientista a proclamar que a prova é a sorte incrível que o universo tem em ter as constantes que tem. Todos menos um cientista, por favor. Qualquer cientista percebe que isto não prova nada.
Fala-se também do Princípio Antrópico, mas esquece-se o autor de referir a diferença entre o PA Forte e o PA Fraco, apresentando o Forte e não apresentando a contra-prova. Esquece-se o autor de referir que a experiência EPR, apesar de apresentar que as partículas estão em contacto directo entre si, também apresenta o facto de que Deus joga de facto aos dados. E não existe determinação possível sobre se o Universo é determinista ou não. Esta é uma crença de Einstein e descrita na Teoria da Relatividade, mas entra em confronto directo com a Física Quântica. É um problema ainda não resolvido.
Mas lá se entra em rodriguinhos, e depois não é bem uma prova. É uma fórmula que a Inteligência no Universo terá, no seu "endgame", de usar para recriar o universo, tornando-se Deus.
Por outro lado, a ideia de que a CIA se deixe entusiasmar pela imaginação de computadores a vaguear pela Galáxia e a proclamar a fórmula de Einstein pelos cantos do universo, quando o que está em causa são bombas atómicas e o Irão, é ridícula. Mas o que mais me enerva é o constante exercício de pastiche, collage, de ideias tão interessantes e tão mal coladas entre si, e aqui atinge-me o pico do desprezo pelo livro. Não pela imaginação louca do autor em referir "Construtores Automáticos" e "colonização das galáxias" e coisas do género, mas precisamente pela falta de imaginação que tal discurso encerra. Como se isto fosse uma novidade incrível. Como se o segredo de Einstein encerrasse uma password até hoje indescrita e espectacular. Como se Isaac Asimov não tivesse descrito exactamente esta história há exactamente cinquenta anos, com muitas menos palavras e um poder de síntese, esse sim, sinal de génio, e como se ninguém nunca a tivesse lido (The Last Question, novembro 1956).

Jornalistas... sempre a fazer-nos de parvos de modo a vender as suas histórias...

segunda-feira, abril 24, 2006

Piranesi

Nascido a 1720 e morto em 1778, Giovanni Piranesi foi um arqueólogo e arquitecto muito famoso pelas suas gravuras do imaginário poético de Roma, de tom Romântico. Piranesi proclamava (quase hereticamente) a supremacia da arquitectura Romana sobre a Grega, e desenhava sobretudo catacumbas, ruínas e espaços quase Escherianos. De reparar que é costume não desenhar o céu, apenas uma continuidade infinita de arcos, tectos e pontes. Amostra do "sublime", espírito da Arte do século XVII e XVIII, que é uma mistura entre o horror, fascínio e sensação abismal perante o infinito, teatral. O romantismo está presente na ruína, ou seja, na presença da morte de uma civilização por ele considerada extraordinária, um fascínio pelo declínio de uma "Atlântida" clássica.

Proclamei-o porque sinto que hoje em dia se tenta reproduzir uma civilização do género da que Piranesi retratou. Abismal. Espantosa. Ultra. Giga. Tera. (Metrópolis? Quem nos dera) Pináculos ao alto. Coração em Deus. E tudo em nome do Marketing. Será isso "sustentável"? Parece-me é surpreendentemente idiota.

quinta-feira, abril 20, 2006

Pedra Filosofal


Salvé, grande Piranesi, sonhador da única verdade, profeta dos altíssimos, senhor do sublime. Dai-nos a visão de Babilónia, torre do infinito segredo, santo plano guardado às setenta e duas chaves pelos trinta e seis Senhores deste Mundo. Ó Babel, quão grande o desejo da tua infinita sabedoria e vaidade, desejo do teu púbis, da tua posse. Raínha das Vaidades e Mistérios, Grande Puta, dai-nos a tua virgindade para que nós, na nossa mesquinhez e falta de espírito te possamos violar e deglutir, como cães, como bestas que somos, arqueólogos das tuas tripas, saqueadores da tua beleza infinita.

A ti te damos todos os tesouros da nossa terra, a ti te proclamamos infinita e te adoramos, em ti sentimos o desprezo necessário, o sacrifício humano, seremos o teu cordeiro. Para sempre havemos de te construir, ó torre miserável, que apontas nefasta e impeadosamente contra o céu, contra o Falso. Agulhas telúricas de energias sublunares, criadoras de redes templárias, ó grande Rosa-Cruz, cumpra-se o teu destino, revele-se o segredo da Salvação, e morramos a seguir. À ejaculação. Ao orgasmo do Universo. Porque a seguir vem Outro, que nascerá. A grande Besta. Que destruirá. E cumprirá, o Universo.

O Segredo, a Alma do Negócio, Baphomet. Basta-me insinuar que possuo algo do Plano de Deus que tu desconheces, que tu cais aos meus pés. Rendido aos meus encantos, à minha Puta que criei e te consome. Holograma dos Anagramas, ao Homem foi dada a Palavra, a Santa, para que nós a desdenhássemos e desconstruíssemos. Para que a destruíssemos, e das cinzas nos cumpríssemos. A Jesus, o grande Bode, o Expiatório, carneiro de todos os Homens, foi-lhe dado o segredo. Pequeno. Que nos amássemos. Que nos déssemos a Deus, ou seja, à vida, ao presente, à carne, ao vinho, ao trabalho, ou seja ao amor. E que gerássemos. E que da fruta nasce a árvore, e da árvore nasce a fruta, e que merda de segredo é este?

Acreditais em algo tão simplório, tão idiota? Ridículo, meus gentios, não acrediteis em Deus, acreditai em Algo Maior. Algo Escondido para sempre e irrevelável, pois se o fosse, deixava de o ser. Eternamente Escondido, eis o verdadeiro sentido do Universo e a nós é-nos dado apenas o papel da barata tonta.

Não, minha gente. Sois tontos em ouvi-lo, ao Simplex. Continuai mas é a construir Elefantes dos Brancos, símbolo da Beleza Eternamente Escondida, fonte da maldita esperança fútil. Continuai a escravizar os outros para que Babel se construa, e para que no final da tua vida possas dizer: "matei milhões. mas por uma boa razão."

A razão de ensinares o teu filho a fazer o mesmo.

terça-feira, abril 04, 2006

segunda-feira, abril 03, 2006

Baco

É verdade o que dizes, mas não deixo de sentir uma formatação ainda esgalhada, forçada. Queres a toda a força ser totalmente honesto mas não consegues. A verdade é dor, e o dom dos pais é nos ensinarem a mentir. O que é a linguagem senão uma forma de afastar as pessoas? De criar uma forma de guerra? Passo a vida entre um escritório, uma residência de estudantes e uma casa de idosos, e não deixo de reparar... (aqui pensei: farei um trocadilho com a palavra "reparar"? Decidi que não, decidi fazer antes um parêntesis à moda do Antunes, e em boa verdade decidi mas é gozar com o leitor que agora por azar lê precisamente estas palavras que escrevo agora. Será que é assim que se prende o leitor? Sentes-te preso? Já me mandaste à merda não sem desprezo? Ainda não? Queres ver onde vou chegar... )

Ou apenas ver. Como é a Forma. deste texto?

Anaaalisa-o. Distorce-o. Diz que é feio, que é lindo, como se isso interessasse às palavras que lês. Não vês que elas são cegas à tua presença? Ou será que és cego? "A arte é uma mentira" lá dizia o Picasso e ninguém o entendia (...Confesso, estou bêbado, bêbado como o Baco. Mas não de vinho. Nem de almôndegas. Da vida, mas não da realidade. Da TV, da Arte, dos anúncios belos e cheios de curvas, como todos os objectos à nossa volta foram desenhados para serem os mais sexys, os mais desejáveis. Nem consigo repugnar! É tudo demasiado Belo! Enchem-nos os sentidos até ao esófago e exigem-nos criatividade, não me admira que todos os meus colegas pareçam regurgitar o seu trabalho.

(aqui perdi um pouco a minha sinceridade. Ali em cima pareceu-me mais giro, mais belo.

Belos parêntesis, vejam bem, como a arte é. Nem sequer fechei o anterior para criar uma suspensão na respiração do leitor. Agora não sabes se ele acabou ou não. Usa todas as armas para interessar o leitor, dar-lhe! uma! experiência estética!

Pois pois... Freud delirante é o que chamo ao mundo, eu o velho do restelo... eu eu. Eu?Sim eu. Digo mal pois digo, não é por acaso que escolhi ser do FCP, pois irritavam-me todos esses seres benfiquistas que diziam "ganhámos ganhámos", quando no fundo apenas ganharam uma cara de aparvalhados ao mesmo tempo que perderam o dinheiro das suas quotas e bilhetes. Ridículo? Mas o que andamos aqui a fazer? (é. aqui perdeu-se a linearidade textual, onde se denota demasiada vaidade para tão mau gosto) Gastar pilhas em videojogos "reais"? A vida é um flirt? (...ui ui, isto tá a piorar! Agora entrámos nos lugares-comuns...) Mas que merda! Deixem-me em paz! Parem de analisar! Digam coisas! (ah, bem feito bem colocado. boa passagem de elementos retóricos reais para um mais surrealista, uma passagem de profundidades). Será possível ainda dizer alguma coisa? (mas que harmonia de elementos! Repare-se como o autor mistura dois tempos, criação e crítica num único espaço, desconstruíndo-os, agora entende-se onde o autor queria chegar! Brilhante!)

- Ah mas eu não sou de tal opinião. Isto de ter um escritor que faz de criador e crítico da sua própria obra parece-me mais um sintoma de grandiosidade misturado com autismo grave.
- Capaz... mas lembra-te que também nós não passamos de pensamentos do mesmo.
- E daí? Devo homenageá-lo por isso, não? Ainda por cima tem falta de imaginação e tenta enganar os seus amigos com um pretensiosismo destes! Cá uma lata!.... e não pára!
- Pois é. Já farta.

Farto.
Sinto-me anestesiado por tanta beleza,
farto de tanta estética.
farto de tanto espelho mágico.
Farto da palavra.
e do verbo.

Anesteticizado.

...
Yo ho ho and a bottle of rum!

quinta-feira, março 30, 2006

Seven

Recordo dias em que sonhava de olhos fechados, hoje vivo dormente como se sofresse de uma falta de objectivos, de uma raiva miudinha: por ser vulgar; um desprezo pela anestesia que domina a minha vontade. A carne gulosa continua a almejar, a preguiça a espicaçar, a inveja e o orgulho a conduzir os desejos, mas a ira já não arde dentro de mim… sinto avareza para com os sentimentos, tudo me parece ridículo… o belo sublime parecem conceitos tão mundanos que me repugnam.. não consigo criar nada de verdadeiramente original, mas tb não o desejo, certamente já não tenho paixão por coisa alguma... alguns dias a única coisa que me move é a latência e o peso da rotina. Quero voltar a sentir-me uno com os dias de verão, desabrochar como as plantas na primavera, quero sentir de novo a luxúria de estar com os amigos que gulosamente me rodeiam, sentir orgulho em detalhes perecíveis, e invejar, oh sim… e voltar a invejar… seria formidável!! A inveja é o mais mundano sentimento humano depois do amor…

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Resoluções de ano novo

Passam 2 dias do começo do ano do fim do mundo. Mais um ano da besta teve início.
Passam 2 minutos que comecei a bocejar. O sono da apatia mais uma vez instala-se. Invade a alma, instala-se no cérebro e faz com que tenhamos vontade de ligar a tv. Mas não… vou resistir…

Este ano não fui festejar o ano novo para a rua. Fiquei dentro de portas, protegido por amigos. Decidi reduzir um feriado estúpido aquilo que ele significa. Mais uma noite… ao menos que seja uma desculpa para jantar com alguns amigos (uns mais do que outros…).


Todos os anos os pessimistas festejam o final do ano, e os optimistas o inicio de um novo, e todo os anos as minhas entranhas oleosas odiaram este feriado. Como é sabido, um ano, demora exactamente 365d 6h 09m 10s ou 365,256363 dias (o q aliás explica a existência de anos bissextos e as correcções q é necessário efectuar no inicio de cada milénio). Transcorrido esse intervalo de tempo o planeta terra volta exactamente à sua posição de partida, ou voltaria se além da rotação e da translação não existissem movimentos de precessão, nutação, movimento dos pólos, movimento espacial do Sol com relação às estrelas da Galáxia e movimento de rotação da Galáxia. (Só da nutação são conhecidos 106 movimentos diferentes, com períodos que vão de cerca de 19 anos até alguns de poucos dias.).


Toda esta argumentação académica para explicar que de facto quando fazemos aquela contagem decrescente, que termina invariavelmente com uma garrafa de champanhe aberta, panelas a bater nas janelas e fogos de artificio na varanda, não estamos a celebrar nada de verdadeiro. O ciclo não se fechou, alias, os jornais são os primeiros a nos mostrar que nada mudou no mundo, continua a haver a mesma merda de todos os dias, guerra nos países pobres, intrigas politicas e lutas plo poder nos países ricos… se estivéssemos na lua por exemplo, de 28 em 28 dias tínhamos uma desculpa para ficarmos bêbados e fazer-mos figura de parvos… o que aliás é o único sentido que vejo nesta festa.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Leituras I

Tou a ler Nietzche: Thus Spoke Zarathustra, versão inglesa que foi a única que encontrei na net. Não que me interesse muito o Nietzche senão para compreender a idiotice filosófica a que chegámos. Só uma mente brilhante conseguiria destronar toda uma cultura e ser tão aplaudido e ajudado nessa tarefa, o comum nestes casos é ser desprezado como um anárquico e inútil, não foi o sucedido. Bem, até nem estava muito concentrado, mas logo que comecei a ler, insurgiu-se-me em mim uma gargalhada tal que me entusiasmou por de maneira a continuar. Sei que aos vinte e três anos é já um pouco tarde para isto, mas para quem ainda se entusiasma ao ler o Asterix, hão de me perdoar a minha flatulência...

Cito a primeira fala do sr. Zarathustra, que para mim é das melhores tiradas de sempre, no fundo a razão de ter criado este post:
«...he went before the sun, and spoke thus to it:
"Oh great star! What would your happiness be if you did not have us to shine for? »

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Liberdade e Utopia

«A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos bens que os céus jamais deram aos homens; nem os tesouros que a terra encerra e que o mar cobre são comparáveis a ela; para a liberdade, como para a honra, pode-se e deve-se pôr em risco a vida»

D. Quixote

A liberdade é um fenómeno de satisfação de um desejo. Se um filho deseja sair à noite e o pai não deixa, a sua fúria é apenas o sinal da sua insatisfação desse desejo: a sua falta de liberdade. A liberdade é também, paradoxalmente, o maior desejo da sociedade actual, que luta por ela. Deseja-se ter a liberdade de possuir ou alcançar a liberdade. Deseja-se a liberdade de termos a liberdade de ver satisfeitos os nossos desejos.

Este desejo é aquele que comanda hoje em dia a sociedade, aquele que quer libertar a opção dos casamentos homossexuais, a opção do aborto, a opção da eutanásia, a opção de termos realmente uma voz na sociedade, a opção da democracia, a opção da feminização do mundo, a opção de podermos usar embriões na ciência, a opção de libertar o Homem das suas prisões, das suas amarras modernas.

Mas o que alimenta o Homem deste desejo? Não é óbvio que os rebuçados que nos deram enquanto crianças (e nos satisfaziam) não nos são já suficientes? Não é óbvio que uma pessoa que lute por uma casa e finalmente a obtenha se sinta insatisfeita com isso e ponha em prática um novo plano para comprar um iate? Será que não é óbvio que sempre que os planos são cumpridos, sabe a pouco? Não, nada disso basta, poderíamos ter o sucesso que pretendíamos, e dizer: «em Roma apoteose, e com isso?»

Lembrar-me-ia de outra frase: «O que um Homem busca nos prazeres é um infinito, e ninguém renunciaria jamais à esperança de alcançar esta finalidade» (Pavese) Claro que isto é questionável. Existe muita gente que já renunciou à hipótese do infinito, ela é irracional. Mas não terá esta gente desistido da sua "Liberdade"?

A Liberdade "prende-se" sempre com um desejo do Bem, e na nossa aderência a esse Bem! Só sou livre quando me sinto EU, ou seja, quando persigo na minha liberdade aquele Bem que desejo, que está no infinito. (Faltará a satisfação desse Bem na minha vida? E que Bem será esse que não o Amor? Então o meu desejo é simplesmente ser amado?)

---

Todas as Utopias são um desejo. São um sonho que um Homem um dia teve, e que deseja satisfazer, cumprir na realidade. O desejo de uma sociedade fraterna e comunista, por exemplo. Ou o desejo de uma sociedade livre em que todos façam aquilo que entenderem, por outro exemplo. Ou o desejo de uma sociedade hierarquizada e ordenada. Ou etc. Dadas tantas utopias a escolher, como escolher?

A Liberdade é a adesão de uma escolha. A escolha de um Bem. No outro dia, ouvi uma mulher a contar que tinha feito um dia uma certa pergunta. Estava indecisa: gostava de dois Homens e não sabia com quem passar o resto da sua vida. Tinha a alegria de poder amar alguém mas o medo de perder o amor do outro. Esperava que lhe indicassem um critério, uma maneira de avaliar, qualquer coisa que desempatasse a questão. Responderam-lhe: "a solução que deves escolher é aquela que te permite não perder nenhum amor". Antes ganhar os dois.

Parece paradoxal e inverosímil mas é a única boa resposta, é a única que nos preenche. É a única Utopia pela qual vale a pena lutar e "pôr em risco a vida". É Anti-Maquiavélico, pois não rescinde de nenhum Bem por outro. É com este critério que proponho que nos coloquemos perante todas as questões da nossa vida, essa verdadeira Utopia. Difícil? Diria impossível, mas a única realmente verdadeira.

E não, este não é um post sobre o relativismo, embora roce na minha crítica ao mesmo, nem tão pouco ao Aborto ou à Eutanásia ou outras mesquinhices, é sim um apanágio à Liberdade, tema tão a propósito numa quadra de Natal, onde muitos festejam o nascimento da revelação da mesma.

Feliz e Belo Natal (Livre!) para todos vós