sábado, janeiro 29, 2005

A utilidade do futebol

Não deixa de ser uma pergunta que de vez em quando bate na minha cabeça como uma pedra. Para que é que serve aquela merda? Também vi um pouco do jogo às três pancadas, pareceu-me que o Sporting merecia mais ganhar, nem que seja porque a arrogância perene e sempre presente do Benfica (o maior clube do mundo, quiçá da Europa!) me irrita constantemente. Mas aquilo que assisti com maior regularidade foram as emoções das pessoas que viam o jogo e quando a sua equipa conseguia meter uma bola dentro de uma rede gritavam e esbracejavam, quais macacos e macaquinhas, parecia o National Geographic live. Quando o inverso acontecia, mãos na cabeça e desilusão.

Não me tome o leitor por um "afastado" das lides do futebol, ausente destes rituais pagãos como muito bem descreveu a fartura, como se eu fosse um Saramago e vivesse numa ilha quase deserta, donde as minhas escritas se emanassem como se do lado de fora da humanidade. Não sou hipócrita! Muito pelo contrário, interesso-me por estas coisas, e aproveito o facto de o meu clube não ter estado presente (e por conseguinte, as minhas emoções também não) para ter presenciado um ritual de fora.

E pergunto-me: qual a utilidade do futebol? Uma pergunta que ultrapassa o simplismo de responder "entretenimento", pois isso é coisa que não existe. Um bom filme é sempre mais que entretenimento, um bom jantar entre amigos, uma saída, uma dança, uma viagem ao Porto. Não pense também o leitor que me passa pela cabeça perguntar qual o sentido da vida nestas palavras. Pergunto qual o sentido destas coisas na nossa vida. O que faz o futebol? Tento responder, ou melhor esboçar uma resposta...

Guerra.
Luta.
Duelo.

Conceitos interessantes. A dualidade do confronto. É um encontro, que giro. Um encontro entre personalidades de grupo, aka Clubes desportivos. Cada clube a sua personalidade, a sua garra, a sua terra. Antes, cada homem era membro do clube da sua terra. Hoje não mais, cada homem ao clube que "mais" gosta, fruto da desterritorialização do mundo, aka globalização. Então, restam as personalidades do clube, que lutam contra outras personalidades. Repare-se na incongruência. Se houver outro clube que de repente represente melhor a personalidade que admiramos, tornamo-nos adeptos desse clube? A resposta é sim. Veja-se o meu caso, em que me tornei semi-adepto (embora de longe) do Chelsea. O que nos mantém no "nosso" clube é outra coisa também, a nossa teimosia da coerência, da autenticidade. Algo da verdade. Se há coisa que não suportamos é alguém que se diz benfiquista num momento (da vitória) e portista no momento a seguir.

O futebol é teatro. Teatro de clubes representado personalidades que nos representam. É uma representação de representação de representações. Um simulacro, que não nos afecta directamente, mas com um enorme impacto nas nossas vidas. Porque é que nos deixamos abater quando uma Grécia ganha a Portugal? Porque é que nos deixamos sequer depender de tal resultado? Não deveríamos aspirar à liberdade? Acreditamos que somos aquele que nos representa, e se essa representação perde, entristecemos, talvez porque no nosso inconsciente deixamos de acreditar um pouquinho nas nossas capacidades. Sentimo-nos um pouco mais fraco.(Talvez a resposta à crise portuguesa fosse a vitória do Benfica na superliga! (Porra!))

É emocionante. O que ontem perguntei foi outra coisa no entanto. O que vai na mente de uma pessoa como o Mourinho, ou o Ronaldo, ou o Deco, etc? Realmente acreditam no que fazem como útil? Impossível. Não criam riqueza, apenas a extraem dos adeptos. Mas como é que tal sucção vampiresca atrai personalidades ao mesmo tempo tão intensas, preserverantes, verdadeiras e honestas, lutadoras, tudo valores ao que associamos ao bem?

Não interessa a utilidade, foi a resposta. O que interessa é no momento termos sido feitos para aquilo. Aquele momento em que sentimos que toda a nossa vida fez sentido para nos colocar naquele relvado contra aquele adversário, e nem pensamos naquilo que fazemos, nem sequer o fazemos, Somo-lo. E é esta totalidade de espírito, de aspiração divina à totalidade do momento que os inspira e os faz humanos. Invejo-os de certo modo! A utilidade das coisas nem sequer é uma pergunta que se deveria fazer. Haverá sempre inutilidades na nossa vida, às quais investimos muitas vezes a totalidade do nosso ser, e é engraçado reparar que costuma ser no campo das inutilidades que colocamos a segurança da nossa existência, a nossa morada, o nosso refúgio.

É bom ver esta totalidade, testemunhá-la, nem que seja numa formatação televisiva, é bom ver que estas coisas existem de facto. Mas será infinitamente melhor vivê-la, e duvido que se consiga isso como adepto.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

O álibi político das utopias tecnológicas II

Concordo… Essas histórias das novas energias por enquanto ainda é a banha da cobra… mas se calhar posso te acrescentar uns dados curiosos ao teu post que não merecem ficar perdidos para sempre num comentário….

Vamos ver ql é o rendimento real de uma lâmpada incandescente de 60watts que temos em casa…

A central térmica mais avançada da Europa é tuga e está ali para os lados do carregado… e conseguiu o fantástico rendimento de 55%.. (é a base de gás utiliza a dupla passagem do vapor pela turbina (uma espécie de intercooler) e veio substituir as velhas centras a carvão que ali estavam ao lado e tinham um rendimento de qse 33%) . mas para essa central térmica trabalhar é preciso primeiro extrair o gás natural… e esse é um processo que também tem custos energéticos elevados… para evitar as confusões de conversões de poderes caloríficos superiores e inferiores em kw e rendimentos de máquinas, centrais de bombagem, custos de arrefecimento e perdas… vamos simplificar isso para 40% do total extraído…um valor se calhar demasiado simpático… e pronto temos gás, temos central térmica.. temos energia… agora vamos ter que a transformar em trifásica, transportar e voltar a transformar em monofasica… ora bem… 10% de perda para os cabos de alta tensão mais ai 40% para as transformações… e pronto.. tens a energia a tua porta… mas tens novamente o problema que os teus cabos em casa são uma merda e aquecem…. Tira lá mas 10% até a electricidade chegar à tua lâmpada….e depois sabes q a tua lâmpada tb tem um rendimento… ai 70% se for uma lâmpada muito boa…. Vamos esquecer que grande parte da luz se trasnforma em calor ou vamos começar a obter valores ridículos…. E pronto… tens a bela da electricidade em tua casa… agora que tens os rendimentos todos queres mesmo fazer as contas de quanto gastas de energia ao planeta sempre que ligas uma merda de uma lâmpada lá em casa? Fazias ideia??? Ou achas mesmo que aquilo q gastas de energia é aquilo que vem na factura?


100*0,40*0,55*(1-0,40)*(1-0,1)*(1-0,4)*(1-0,1)*0,7= 44,25..


Ou seja se tivesses e energia equivalente (utilizando um gás com um PCI constante) a 100KW numa reserva de gás.. na melhor das melhores das hipóteses.. e sendo sempre muito optimista chegada 44,25KW a tua casa… e depois tinhas que ir ver dessa lâmpada quanta luz é que tu utilizavas…. Por exemplo podes ter uma lâmpada acesa em casa durante 10 horas mas na realidade apenas precisares dela durante 8….. ( o que é muito mais comum do que supomos…) sem contar com a energia extras de acender uma lâmpada… nesse caso a energia útil baixava para 44,25*,8= 35,4 Kw….. isto contas por baixo……… dá que pensar não dá?

Por fim um momento de reflexão nacional…

Neste dia de drama, tristeza e até mesmo tragédia, aproveito o facto de estar de molho durante mais uns dias, para partir ver as opiniões das pessoas em relação ao derbie de 2ª circular… Um dos melhores jogos que alguma vez me lembro de ter visto… (estranho no entanto como tantas pessoas viram outro jogo completamente diferente do meu….) mas não vamos por ai... Quem tem cú tem uma opinião… e pelos vistos a verdade desportiva é apenas mais um exemplo de que não existe uma verdade global… mas pronto, depois de descobrir que de acordo com os regulamentos da FIFA ( e não da UEFA) o arbitro deveria ter expulso metade da equipe do Benfica e a totalidade da equipe do Sporting, que o treinador do Benfica tem uma mãe de profissão duvidosa e que toda a gente do Sporting, incluindo treinador, presidente, roupeiro, claques e por ventura um ou outro adepto não merece sequer ser considerado por falta de classe, proponho que mudemos de tópico, aproveitando para deixar os meus parabéns de perdedor à equipe que teve mais sorte… a propósito… alguém sabe onde posso comprar um cachecol do belenenses ou do estrela da amadora para tb poder torcer por alguém na final??

Hoje mais do que num dia de eleições é dia de debate nacional... hoje nem o mais sensacionalista dos jornais estaria interessado no pobre senhor que nunca tinha visto neve, mas que afinal era cego (AFALFALAS TOOOOODAS!!!!!!! Hehe! ) hoje é dia de derbie… hoje é dia de tentar descobrir todas as falhas dos árbitros e tentar massacrar a equipa que perdeu com os golos dos adversários, de tentar despedir treinadores, de recuperar alegados comentadores desportivos da prateleira para ouvir mais uma opinião duvidosa na objectividade. E pior, hoje é dia em que os portugueses rumam as bancas para comprar os jornais desportivos para obterem todas as migalhas de informação possíveis e imaginárias de um jogo, que neste caso durou 120min…. Mas que agora se prolonga por semanas de conversas de cafés de discussões ocasionais entre amigos…. Ora bem… a minha teoria é a seguinte… o que é que um jogo tem que a vida real não tem??

O que é q faz com que de repente milhões de Portugueses passem a querer estar conscientes da realidade que os rodeia? O que será que faz com que eles queiram se instruir mais sobre um determinado assunto? Que busquem saber na opinião de outras pessoas? (ainda que muitas vezes essas pessoas tenham uma opinião que vale tanto como a sua...) o que faz com que comprem e leiam jornais? Que força tem o desporto que faz com que as pessoas se encontram nos cafés e discutam a bola e não sejam capazes de se interessar pela linha económica desastrosa para o país que os dois principiais partidos apresentam ao país nas próximas eleições? O que faz com que seja importante a declaração do Sr. José Peseiro a dizer que o Sr. João Pereira estava a enganar os adeptos do estádio e ninguém ligar importância quando o Sr. Santana Lopes chame “mariquinhas” ao Sr. José Sócrates num contexto que ainda está por provar? (pelos vistos de acordo com os boatos não desmentidos podemos vir a ter um primeiro ministro homossexual que ainda não saiu do armário…. O que é uma tristeza… porque de acordo com as mulheres com quem tenho falado o Sr. Diogo Infante traria um colorido muito apelativo para estas eleições… seria uma espécie de Barbara Guimarães, mas para as mulheres e para os gays….) e pronto… fugi do assunto… e perdi o indesejado leitor…

É sobejamente conhecido que o futebol tem mais adeptos no mundo do que qualquer religião do mundo... dai epítetos lamentáveis como “ a maior religião do mundo” apensar de não se venerar nenhum deus, e de aproveitamentos comerciais como “ a bíblia do futebol” numa tentativa reles de se aproximar as sagradas escrituras…. Uma tentativa de aproximar um jogo totalmente humano e pautado por erros humanos ao divino sobrenatural… uma espécie de culto pagão à relva e à virilidade masculina... Mas o que será que faz com que as pessoas se importem que seja este ou aquele jogador a estar em campo ou que seja ou não falta e não se importem que haja ou não cuidados de saúde ou que haja ou não segurança nas ruas… não sei responder… mas posso ajudar a resposta… o espectáculo… a emoção… (ainda gostava de saber qtos ataques de coração despoletou o 3-3 do malfadado Simão Sabrosa….) é um jogo de humanos mas que mexe com os sentimentos … as pessoas vivem o ambiente… durante aqueles minutos são outras… ninguém qr saber se são ricas ou pobres… brancas, verdes ou pretas…ninguém qr saber qm são as pessoas do lado… jogo é jogo… é tudo uma questão de se ganhar ou de se perder… de se apostar no cavalo certo…ser melhor do que os outros… de se superar a si próprio… ainda que pelos braços e pernas de outros… toda a gente pode jogar a bola... mas aqueles 11 tipos são os tipos que nos representam perante o mundo... São eles que fazem o nosso lugar… mas do que um jogo, é uma forma de nos superar-mos a nós próprios… Einstein costumava dizer que deus não jogava aos dados quando se referia a perfeição mecânica da humanidade… mas acho que se passa exactamente o contrário com os humanos… nos gostamos do risco... gostamos de apostar... de tentar ganhar o nosso lugar no Olimpo…de sermos melhor, mais perspicazes... mais atléticos… mais qualquer coisa… é por isso que era importante que os políticos pudessem motivar os portugueses… o orgulho nacional… o querer ser melhor do que os outros... não num jogo… mas na vida de todos os dias… o euro foi um principio para as pessoas começarem a sentir orgulho no seu pais… mas é preciso mais… somos mais do que futebol e temos q perceber isso… mais do que qualquer coisa precisamos de brio e de acreditar que somos capazes… pq se tivermos isso podemos ganhar todos os derbies é só encarar os outros países como clubes inimigos numa rivalidade saudável... por exemplo Espanha pode ser o nosso Benfica que queremos vencer categoricamente… é só uma ideia de um invalido que tem tempo a mais para matar!!!! Mas é preciso motivar as tropas… é preciso acreditar que somos capazes… somos o treinador de um pais que precisa de nós para não descer mais uma vez de divisão… qualquer dia estamos nos distritais a lutar pelo penúltimo lugar… é preciso raça.. ou por outras palavras…
Esforço dedicação e glória!

quarta-feira, janeiro 26, 2005

O álibi político das utopias tecnológicas

Aproveito o facto de determinadas farturas estarem em posição de páxá por alegada "lesão", facto ainda a comprovar física e metafisicamente, para lembrar a humanidade que as suas manias da eco-energia são a maior mentira já inventada.

É que não sei se sabem, mas se não o sabem deviam-no saber, e mesmo que leiam isto ficam sem saber, por isso procurem sabê-lo, pois não o digo.

Estava a brincar. Arre que já não há humor. Como eu ia a dizer, ou melhor, a escrever, a necessidade de criar novos tipos de combustíveis criou uma colectânea de messias energéticos aos quais eu darei os nomes de Galáticos, cuja missão divina é nos salvar das guerras pelos recursos energéticos, pela poluição e pela deterioração da economia global.

Um destes galáticos é sem dúvida a Fusão Nuclear. Depois de os EUA e o Japão terem abandonado o programa de fusão, a França chama-los de ímpios e infiéis, apoiando-o mais do que nunca (914.000.000 euros). No entanto, ninguém em França quis saber porque é que nos EUA e no Japão o programa foi abandonado...

AULA de FUSÃO. Como fazer uma reacção em fusão??

Para se efectivar a fusão é necessário fazer fundir dois átomos: um de deutério (raríssimo e na água do mar) e um de trítio (não existe na Terra, os cientistas propõem obter-se a partir de lítio). Fundem-se e voilá. Energia em quantidades brutais que é necessário captar em calor para produzir vapor ou um gás em alta temperatura, mais turbinas, etc etc e tal, e enfim, finalmente um pedacito de energia... num sei não, mas surge-me uma dúvida, senhores professores. Quantas dezenas ou centenas de Watts serão necessárias para criar um Watt?... sem falar claro nos neutrões produzidos pelo reactor que são dez vezes mais poderosos que nos de fissão... e que batendo nas paredes do reactor tornam-no frágil.... e radioactivo!!!

HUMMMMMM..... talvez, just maybe, NOT a good idea!

MESSIAS 2: Pilha de hidrogénio / combustível

com rendimentos muito superiores aos da gasolina, entre os 60% (enquanto os outros andam pelos 35/40%), esquece-se dizer porventura que o hidrogénio não existe em estado livre na natureza, sendo preciso exactamente o que o senhor leitor está a imaginar: extraí-lo da água (ou dos hidrocarbonetos), implicando... enormes dispêndios de energia... por cada 5 Kwh dispendidos para criar 1 metro cúbico de hidrogénio, temos 3 Kwh de energia para usar em combustão, fora o conter o hidrogénio, o oxigénio, etc, etc e tal.

E andam praí os cientistas e os politicóides da paranóia e da mediatice a cantar violino para o zé. Que vida mais alegre!

domingo, janeiro 16, 2005

um tributo a Amalia

Estranha forma de vida


Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.


Amália Rodrigues

poemas

tem piada ser eu a postar tantos poemas no blog... eu q nem gosto de poesia.... estranho!!!!!!!! (mas que estraaaaaaaaaaaaaaaaanha forma de vida!!!!!!)

Competência

já comentei o teu texto no local apropriado... e apesar de continuar melancolico achei giro que o texto me fazia lembrar uma outra musica... ñ exactamente j. Palma....

Vieste comigo
nesse jeito pós-moderno
de não querer saber nada
de não fazer perguntas
essa pose cansada
tão despida de emoção
de quem já viu tudo
e tudo é uma imensa
repetição


não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta


depois quase ias embora
desse modo
evanescente
não soubesse eu ver-te
tão transparente
e teria sido apenas
o encontro acidental
uma simples vertigem
dum desporto radical

não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta


Clã - competência para amar

Engraçado...

... não consigo deixar de pensar que as letras do Jorge Palma enquadram belíssimamente esta ideia...

José Gil

, filósofo, considerado pela "Nouvel Observateur" como um dos "25 grandes pensadores de todo o mundo". Ouçamos o que nos tem para dizer...

Depois da leitura do seu livro, "Portugal, Hoje - O medo de existir" é impossível não se ficar deprimido - "Hesitei muito antes de o publicar. Decidi fazê-lo, porque acho que estas coisas devem-se dizer publicamente..."

Em Portugal a inveja não é um sentimento, é um sistema

"... os acontecimentos não influenciam a nossa vida, é como se não acontecessem. Por exemplo, quando uma pessoa ama, esse sentimento não afecta a outra pessoa, objecto do amor. Quando acabamos de ver um espectáculo, não falamos sobre ele. Quando muito, dizemos que gostámos ou não gostámos, mais nada. Não tem nenhum efeito nas nossas vidas, não se inscreve nelas, não as transforma. Ainda outro exemplo: o primeiro-ministro, Santana Lopes, classificou a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente como "enigmática". Não disse que era incorrecta ou injusta, mas "enigmática", o que é a forma mais eficaz de a transformar em não-acontecimento."

E, não tendo acontecido, ninguém é responsável
"Exactamente. Pode-se continuar como se nada se tivesse passado. Os acontecimentos não se inscrevem em nós, nem nas nossas vidas, nem nós nos inscrevemos na História. Por isso, em Portugal nada acontece."

Isso vem de onde?
"Do medo. E da falta da ideia de futuro. Vivemos num presente que se perpetua."
(...)
"Nós temos uma pobreza enorme de expressão em relação à nossa existência."

Não pode sentir, porque não o pode exprimir?
"Sim. A expressão abre para o fundo, não apenas para fora.Mas nós estamos agarrados a um texto e não temos forças para sair dele."
"É o texto da sociedade normalizada, do bom senso, do política, social e afectivamente correcto(...) Temos um texto que nos diz o que podemos viver.

É o medo que nos impede de rasgar esse texto?
"Nós temos medo de experimentar. Porque temos medo do que irão dizer de nós. Partimos sempre do princípio de que o que vão dizer é negativo, desvalorizante.(...) Isso cria logo um medo que nos paralisa. Faz com que tenhamos prudência. Bom senso.

Mas a prudência e o bom senso poderiam ser atitudes positivas, para nos guiarem na acção...
"Qual acção? A prudência paralisa a acção."(...)
"A verdadeira prudência seria uma estratégia para medir e modular a acção, à medida que ela se desenrola. Mas nós não queremos é agir. Porque a sociedade portuguesa, ao contrário de outras, é fechada, não tem canais de ar, respirações possíveis. É uma sociedade suavemente paranóica. As pessoas estão demasiado conscientes de si próprias, o que é um horror. Conscientes da imagem que possam produzir, da sua presença como imagem nos outros. Isso é paralisante."
"É uma obsessão. Estamos sempre a falar da auto-estima, esse termo horroroso."

O que há de errado com a auto-estima?
Essa ideia reflexiva, de nos amarmos a nós próprios... Em vez de estarmos virados para fora, para os outros, para o mundo. Só nos podermos afirmar agindo, exprimindo-nos - não voltando.nos para a autocomplacência. Tudo o que é válido vem "de fora".Nós ainda temos essa ideia de que é preciso começar por uma transformação interior... Mas, em Portugal, não existe um "fora".

Isso que dizer que não existe um espaço público?
"Não, não existe. O salazarismo extinguiu-o.(...) Toda a nossa expressão individual , social, passou a reduzir-se ao discurso político. E no espaço público instalou-se em força um dispositivo que ocupou o lugar todo: a televisão, e os "media" em geral.

Os "media" não são espaço público? Funcionam em circuito fechado?
"(...)Têm uma acção de absorção. Só se existe se se aparecer na televisão. Mas estar e aparecer na televisão não é a mesma coisa do que viver a vida, na materialidade das ruas e do tempo."(...)
"Com certeza que nã se vai voltar atrás. Mas é preciso recuperar aquilo que nos é sugado por esse espaço de imagem e que é a vida dos corpos. Os acontecimentos da existência, no que têm de invenção. Na televisão tudo está formatado, não há imprevisto, encontro. O acontecimento é o resultado de um encontro. Mas nós temos medo do acontecimento. Medo da mudança, medo do futuro, medo do julgamento dos outros, medo de não sermos capazes. Medo de não estar à altura do acontecimento."
(...)
"Uma vez assisti a uma entrevista com o jovem físico português, João Magueijo, que vive em Inglaterra. A repórter perguntava-lhe: "Você trabalha com matemática, não em laboratórios. Não podia ter descoberto essas teorias em Portugal?" E ele respondeu imediatamente: "De maneira nenhuma. Sabe porquê? Por causa da intensidade das trocas de pensamento em que eu vivo quotidianamente. É isso que me faz pensar".

A nossa incapacidade vem do medo...
"O mecanismo da inveja (...). Imagine que você chega ao pé dos seus colegas e diz: "Fiz uma reportagem extraordinária!" E não está a falar por vaidade, mas objectivamente. Mas logo o tipo que está ao seu lado diz: "Ai sim? Pois muito bem." E com este tom introduz em si um afecto inconsciente que o vai paralisar."
"A inveja é mais do que um sentimento, é um sistema. E não é apenas individual: criam-se grupos de inveja. Várias pessoas manifestam-se simultaneamente contra a sua iniciativa. Cria-se um ambiente de inveja."
"Vivemos reconhecendo-nos como irmãos na desgraça."
"Se você faz alguma coisa de forte, isso deveria ser um estímulo para mim, para fazer algo também forte. Mas não. Vê-lo forte diminui-me a mim. Vê-lo com intensidade, com iniciativa, faz-me pensar, por causa da imagem que tenho de mim, na minha pobre condição, em que não faço nada. E faço tudo para destruir a sua iniciativa, para que eu possa viver. Você sufoca-me com a sua energia. (...) E o resultado é que estamos todos sem energia."


O original era muito grande. Ficam estes pequenos excertos.

in Pública nº 451, "Ideias fortes", entrevista a José Gil, pp 5-9

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Quem és tu, de Novo

Quando a janela se fecha e se transforma num ovo
Ou se desfaz em estilhaços de céu azul e magenta
E o meu olhar tem razões que o coração não frequenta
Por favor diz-me quem és tu, de novo?

Quando o teu cheiro me leva às esquinas do vislumbre
E toda a verdade em ti é coisa incerta e tão vasta
Quem sou eu para negar que a tua presença me arrasta?
Quem és tu, na imensidão do deslumbre?

As redes são passageiras, as arquitecturas da fuga
De toda a água que corre, de todo o vento que passa
Quando uma teia se rasga ergo à lua a minha taça
E vejo nascer no espelho mais uma ruga

Quando o tecto se escancara e se confunde com a lua
A apontar-me o caminho melhor do que qualquer estrela
Ninguém me faz duvidar que foste sempre a mais bela
Por favor, diz-me que és alguém, de novo?

Quando a janela se fecha e se transforma num ovo
Ou se desfaz em estilhaços de céu azul e magenta
E o meu olhar tem razões que o coração não frequenta
Por favor diz-me quem és tu, de novo?

Jorge Palma

Encostei-me

Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.

Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na idéia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.

Ah, afundado
Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono,
Irrequieto tão sossegadamente,
Tão análogo de repente à criança que fui outrora
Quando brincava na quinta e não sabia álgebra,
Nem as outras álgebras com x e y's de sentimento.

Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem importância nenhuma
Na minha vida,Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos ---
Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender
E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro.


Álvaro de Campos

terça-feira, janeiro 11, 2005

novo look!!

e que tal o novo visual?? Catita não??? Tens que ver se consegues dar um jeito a isto... ainda não está piroso o suficiente!!

finalmente um post sério....

Vamos então festejar o acaso de me sobrar um instante de lucidez num dia cansativo, e aproveitar para tentar arranjar um sentido para a vida. Tenho levado essa tarefa bem a peito nos últimos dias, tenho sido um bom aluno, estou a ler o livro, andei a rever (e ainda estou!) as músicas de Jorge Palma, ando preocupado e pensativo, falta ainda tentar o tabaco e o álcool, mas ultimamente as circunstancias não me tem permitido esses modos de alheamento do mundo circundante. Após uma semana e tal de profunda reflexão, tenho a anunciar as seguintes conclusões: não consegui encontrar um sentido para a vida, com isso não pretendo dizer que a vida é-me indiferente e que estou disposto a abdicar dela, nada disso, muito pelo contrário! O que se passa é que tenho tido dificuldades em ultrapassar a barreira das palavras e definir algo que bem no fundo consegue reger a vida, uma espécie de apatia injustificável perante o futuro, um desejo que nada deseja, uma vontade que se contraria a si própria… a definição mais exacta seria a de um espectro sem vontade que existe indefinidamente para cumprir uma missão que ele desconhece mas que também não pretende conhecer.

Confesso que estas ultimas revelações têm abanado o meu ser, revelando-o mais desprotegido e frágil do que alguma vez pensava ser, criando em mim uma contra vontade irresistível de romper com o passado e começar tudo de novo. Decido então dar largas e essa vontade destruidora de cortar com tudo para que um novo futuro possa ter espaço para crescer e acabo por descobrir que aquilo que eu pensava que queria afinal já tenho… confuso? Bastante! E tem sido isto que me tem ocupado os tempos livres… por isso é normal que o blog ultimamente tenha assumido contornos negros

(isto está a ficar sombrio....)

(isto está a ficar sombrio....)


Quem é a gatinha???!?

Gostei de te ver no outro dia pá! Há com cada idiota na estrada...

Bem! Um abraço!

segunda-feira, janeiro 10, 2005

más noticias...

parece que o objectivo do blog falhou... somos uma miseria! uma lastima! uma vergonha!!!!

sei de fonte segura que tivemos um (urrrg! até me faz confusão escrever....) leitor!! ou no nosso infeliz caso, uma leitora... uma tal "gatinha" (reservo para outras nupcias o comentário a esse nick) que violou o nosso santuario publico e leu o nosso blog fazendo com que ele deixa-se de ser o mais ignorado.... se tivesse sexo acho que me sentiria violado (no bom sentido da questão)... assim sinto-me ensopado em oleo de girasol da marca lidl...o que vale é q temos outros de reserva ;o)... e esses nunca ninguem os descobrirá!!!! (heheheh!! riso maquiavélico!!!!)

sinto-me profundamente deisludido comigo próprio.. tão negro como o raio do livro do orwell, fustrado e fraco.. acho q me vou suicidar.. (estranho nunca temos abordado um tema tão complexo, profundo.. cheio de simbolismo abstrato e no entanto vazio de conteudo real e como tal dificil de provar, baseando a sua existência na falta de contraditório.... será que ñ te esqueceste de me pedir para o definir em 3 linhas ou menos?) acho que me vou atirar da ponte com o carro em movimento, mergulhar no lodo que corre no lugar do rio tejo, lançar-me em frente de um comboio da linha de sintra em hora de ponta só para fazer com que os milhares de utentes dessa malfadada linha tenham que esperar horas a fio até que o meu corpo seja removido e pelo menos durante uns breves instantes tenham consciência da minha existência oleosa....

mas ñ, vou viver (sim.. vou fazer aquela coisa para a ql ainda tenho q arranjar uma definição) VOU VIVER!!! vou enrolar-me num manto de açucar e mergulhar pelas goelas abaixo de um puto ranhoso que está num berreiro a fazer a vida da mãe negra... sim, vou cumprir o meu destino... VOU SER COMIDO!!!!!!!!!!!!

qto a ti... sugiro que vás a um barbeiro mas nada dessas coisas amaricadas tipo cabeleireiros que agora andam por ai... ao menos na tua hora de glória tem honra e comporta-te como um verdadeiro Pêlo!

(e com esta tirada trágica me retiro para voltar ao raio do livro... o melhor sonorifero que encontrei desde um livro de comportamento organizacional que fui obrigado a ler... Cazzo!!!!!!)

conflito na IC19

um certo passarinho contou-me que um certo e determinado pêlo hje ia tendo um desacato em plena via publica... parece que já ñ está em condições de sair de casa.... como sei??? é certo e sabido que na roulote (de farturas) onde moro tudo se sabe e tudo se bebe.....

quinta-feira, janeiro 06, 2005

filosofo, eu????

só perguntas faceis de responder em 3 linhas ou menos......

o sentido da vida, pq estou vivo, de onde vim, para onde vou..... só definições obvias e q a filosofia moderna conseguiu facilmente responder desde os primordios da história...... pedes pouco meu irmão oleoso......

ainda estou a pensar no teu caso.... e a ler o raio do livro!!!!!!!

terça-feira, janeiro 04, 2005

And now for something completely different.

Escrevi aqui coisas fantásticas mas o computador não me ajudou e todas as palavras foram para o oblívio do nada. Vivemos sem dúvidas na idade negra da informação.

Resta-me uma pergunta que talvez tenha sido o motor das coisas fantásticas, à maneira de Alice que desapareceram... era sobre um cientista ter descoberto um modo fantástico de transporte instantâneo, tornando obsoletos quaisquer sistemas de transporte (deixo à imaginação alheia as consequências de tal especulação porque me falta a paciência para as descrever de novo)

E às farturas agnósticas a obrigatoriedade de responderem.

Porque vivemos? O que é a Vida? O que andamos cá a fazer?
(uma DEFINIÇÃO e não uma CARACTERIZAÇÃO. Para "impressões" basta-me um carimbo. Para experiências basta-me um comando da PS2, não viver)

ou de outra maneira: para que servem os amigos? O que É um amigo?
(quero uma DEFINIÇÃO e não uma CARACTERIZAÇÃO. Não quero uma coisa do género: "é um tipo que faz isto ou aquilo...")


PS: Acerca de 1984. O livro fala da prisão de um sistema fechado sobre si. Alienado. O título original do livro era para ter sido "o último homem na Terra" (que seria Winston). O problema de Winston é que ele via a realidade como "objectiva", enquanto que o Partido via-a como uma construção do Homem! E se é possível construir a realidade, então que fosse o Partido a fazê-lo. Porquê, pergunta o Winston, não sei bem em que parte do livro, ao que O'Brien há de responder, porque queremos o Poder. Não para servir, mas porque SIM. É objecto de desejo.

Não para servir porque obviamente não existe propósito algum na vida neste sistema. Não havendo propósito, o Poder não serve, apenas é servido.

É um círculo a fechar-se sobre eu próprio. O final de uma fenda no fundo da gruta na qual eu desesperadamente tento abrir um caminho (sempre em frente, nunca para trás). Um buraco negro (http://www.iis.com.br/~cat/catalisando/2003-08-04_07h56_Singularidade_matematica.htm)

Não leves isto tão leve como isso. Muitos filósofos hoje em dia discutem o conceito de "singularidade matemática" como um conceito que irá definir uma data futura. Uma espécie de "salto" para outro nível que nós não sabemos muito bem para onde, para o quê, etc.
Como sendo uns gorilas e tentarmos imaginar seres humanos a criarem máquinas que voam e fazem contas e constroem mundos virtuais...

"Why?"
"Because I chose to."

Fartura favor responder. :)

Now for something completely different.

Imaginem que um cientista resolveu de uma maneira qualquer o problema da circulação