sábado, dezembro 16, 2006

tributo a paula rego...

O aborto é uma realidade lamentável mas inescapável. Embora seja triste que muitas mulheres efectuem abortos, essa é uma realidade que não podemos evitar. Podemos naturalmente tentar evitar o maior número possível de abortos individuais, mas devemos também procurar que os abortos que, de qualquer forma, serão praticados, o sejam nas melhores condições possíveis e com o menor sofrimento possível. Só a despenalização do aborto, dentro de um prazo realista (praticável), permite garantir que todas as mulheres que estejam firmemente determinadas a abortar o farão em condições seguras e não traumatizantes.
É necessário um compromisso entre o direito à vida e o direito ao planeamento familiar. Não há planeamento familiar eficaz sem a possibilidade de, como solução de recurso, abortar. Efectivamente, todos os meios contraceptivos falham, por vezes, seja por razões técnicas seja por falha humana. O direito à vida sugeriria que a vida humana deveria ser protegida desde o instante da concepção. O

texto ridículo da autoria de www.euvotosim.org, desenho de Paula Rego

quarta-feira, dezembro 06, 2006

A prova de Deus

O livro que abaixo critico (quase) propõe uma prova de que Deus existe. Apresento uma outra prova, bastante semelhante, mas de que não existe. Vem de "Hitchhiker's Guide to the Galaxy", e parece-me fazer bastante sentido (ou não! ou diria, tanto como!). O argumento começa com um peixe especial que existe na galáxia, um Babel Fish.

"The Babel Fish," said The Hitchhiker's Guide to the Galaxy quietly, "is small, yellow and leech-like, and probably the oddest thing in the universe. It feeds on brainwave energy received not from its own carrier but from those around it. It absorbs all unconscious mental frequencies from this brainwave energy to nourish itself with. It then excretes into the mind of its carrier a telepathic matrix formed by combining the conscious thought frequencies with nerve signals picked up from the speech centres of the brain which has supplied them.The practical upshot of all this is that if you stick a Babel Fish in you ear you can instantly understand anything said to you in any form of language. The speech patterns you actually hear decode the brainwave matrix which has been fed into your mind by your Babel Fish.

"Now it is such a bizarely improbable coincidence that anything so mind-boggingly useful could have evolved purely by chance that some thinkers have chosen to see it as a final and clinching proof of the non-existence of God.

"The argument goes something like this: "I refuse to prove that I exist", says God, "for proof denies faith and without faith I am nothing."
""But," says Man, "the Babel fish is a dead giveaway isn't it? It could not have evolved by chance. It proves you exist, and so therefore, by your own arguments, you don't. QED."
""Oh Dear," says God, "I hadn't thought of that," and promptly vanishes in a puff of logic.
""Oh, that was easy," says Man, and for an encore goes on to prove that black is white and gets himself killed on the next zebra crossing."

Moral da História:

"Most leading theologians claim that this argument is a load of dingo's kidneys, but that didn't stop Oolon Colluphid making a small fortune when he used it as the central theme of his best-selling book Well That About Wraps It Up For God."
"Meanwhile, the poor Babel fish, by effectively removing all barriers to communication between different races and cultures, has caused more and bloodier wars than anything else in the history of creation."

A fórmula de Deus, ou, The Last Question?

Acabei de ler o livro "A Fórmula de Deus" do nosso Dan Brown Português, o José Rodrigues dos Santos. Não lhe chamo Dan Brown a pensar nos meios sujos e mentirosos que o americano usa para os seus próprios fins, mas porventura pelo estilo e pela mística envolta num mistério que apenas no último minuto se desvenda. Sem falar claro do eterno problema da criptografia, tema transversal a estes dois autores, pelos vistos. Matrioskas...

Gostava de dizer que o li num ápice. Não porque era bom, entenda-se. De facto, dei por mim a passar ao lado das descrições aborrecidas que mais dão a sensação de terem sido colocadas por enfado e obrigação do que contribuírem significativamente para a história. Todo o leitor menos distraído deve ter reparado na repetição amadora com que o escritor faz primeiro uma análise sensitiva de um espaço para depois, distraidamente, e como quem não quer a coisa, há alguém que lança uma pergunta no ar (ahh) "alguma vez esteve no Cairo?". Estupidificante. Mas enfim. O que é facto é que Rodrigues dos Santos é um jornalista inteligente, e o conteúdo filosófico / cientista / teológico do livro é suficientemente interessante para manter o leitor intrigado, com uma revelação sempre ao virar da página e uma cifra colocada pelo próprio Einstein, profeta dos tempos modernos.

Tem, no entanto, erros crassos. O primeiro é o de não olhar a meios para atingir os seus fins. A ideia de que a prova da existência de Deus existe é, em si, absurda. Mas mesmo que existisse, ela nunca poderia depender da "sorte da lotaria", seria estarmos a depender outra vez do "Deus das Lacunas". E este é precisamente o ponto fraco do livro, o ponto em que o autor concebe um cientista a proclamar que a prova é a sorte incrível que o universo tem em ter as constantes que tem. Todos menos um cientista, por favor. Qualquer cientista percebe que isto não prova nada.
Fala-se também do Princípio Antrópico, mas esquece-se o autor de referir a diferença entre o PA Forte e o PA Fraco, apresentando o Forte e não apresentando a contra-prova. Esquece-se o autor de referir que a experiência EPR, apesar de apresentar que as partículas estão em contacto directo entre si, também apresenta o facto de que Deus joga de facto aos dados. E não existe determinação possível sobre se o Universo é determinista ou não. Esta é uma crença de Einstein e descrita na Teoria da Relatividade, mas entra em confronto directo com a Física Quântica. É um problema ainda não resolvido.
Mas lá se entra em rodriguinhos, e depois não é bem uma prova. É uma fórmula que a Inteligência no Universo terá, no seu "endgame", de usar para recriar o universo, tornando-se Deus.
Por outro lado, a ideia de que a CIA se deixe entusiasmar pela imaginação de computadores a vaguear pela Galáxia e a proclamar a fórmula de Einstein pelos cantos do universo, quando o que está em causa são bombas atómicas e o Irão, é ridícula. Mas o que mais me enerva é o constante exercício de pastiche, collage, de ideias tão interessantes e tão mal coladas entre si, e aqui atinge-me o pico do desprezo pelo livro. Não pela imaginação louca do autor em referir "Construtores Automáticos" e "colonização das galáxias" e coisas do género, mas precisamente pela falta de imaginação que tal discurso encerra. Como se isto fosse uma novidade incrível. Como se o segredo de Einstein encerrasse uma password até hoje indescrita e espectacular. Como se Isaac Asimov não tivesse descrito exactamente esta história há exactamente cinquenta anos, com muitas menos palavras e um poder de síntese, esse sim, sinal de génio, e como se ninguém nunca a tivesse lido (The Last Question, novembro 1956).

Jornalistas... sempre a fazer-nos de parvos de modo a vender as suas histórias...