quarta-feira, dezembro 01, 2004

Tabefes na cara

Isso depende se olharmos para um clone como um ser humano, um membro nosso ou um objecto sexual. Depende da perspectiva.

Quero falar um pouco do que se tem vindo a descobrir, pois eu acredito que a verdade é inteligível, o que é diferente de dizer compreensível. Ou seja, consegue-se conceber um esquema da realidade, seja ele verdadeiro ou não pouco importa, mas sim se ele é útil ou não.

Mas o que é a "Verdade" em sua essência? Fartura diz: "trata-se de uma falsa questão", para depois rematar em cegueira completa (é que só pode): " verdade é que andamos nesta vida não em busca de felicidade… isso é uma ilusão… qtas e qtas vezes ñ optamos por atitudes que nos afastaram desse objectivo? Andamos nesta vida para viver… para apreciar o momento e para deixar junto do nosso semelhante a melhor das impressões e assim ajudar a criar um mundo melhor… "

Gostaria de analisar este comentário que me parece genialmente bestial. Ele é o cerne deste mundo que eu combato, que eu procuro abanar. Vou destrinçá-lo de tal ponto que quase não restará nada senão migalhas em forma de moral. Uma falsa moral (tal como todas). Bora lá. SOU MESMO CHATO NÃO SOU? :D



"...isso é uma ilusão" Claro. Smoke and mirrors... Andamos sempre à procura de fantasmas, não é verdade? Aliás, segundo Nietzche, o rei Midas andava à caça do irmão de Dionísio, pois ele continha a fonte do sentido da vida e a resposta que ele mais queria. Quando o caçou perguntou-lhe, obviamente: "O que é que de melhor há nesta vida?", Qual é o desejo máximo, a plenitude? O semi-deus abriu-se em gargalhadas e troça do mortal: "Meu Rei, o que tu de melhor poderias ter está-te já vedado desde que nasceste e nunca poderás ter, que era nunca ter nascido. A segunda melhor coisa é-te mais possível, é que morras daqui a pouco tempo"

Este é o nascimento da Tragédia Grega. O espelho que nunca nos fala, apenas nos "reflecte". E assim pensamos, assim "reflectimos"...

... Mas então porque pensamos? Para pensar? Para que existe um cérebro?

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"qtas e qtas vezes ñ optamos por atitudes que nos afastaram desse objectivo? "

Havia um ditado, como é que era, errare humanum est...
Cuidado com os argumentos perniciosos desse tipo. É do género um gajo dizer, é humano não matar. "Balelas. Como se isso fosse humano. Quantas vezes o Homem não matou?"

Claro que faz todo o sentido. Não tou aqui em querelas de lógica. Mas o que vale é que não somos máquinas como tu bem dizes....

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"Andamos nesta vida para viver": Um tipo de raciocínio circular é sempre útil neste tipo de discussões. É sonante, tem ritmo e não diz nada. É quase tão ridículo como dizer "Andamos a escrever... para escrever", ou "Andamos de carro para conduzir", ou "Respiramos... para respirar", entre outras nulidades de espírito. Outra questão engraçada seria "o que é viver?", talvez a resposta fosse: "é andar na vida". Brilhante.

Claro que compreendo o sentido da frase, aliás em todo o lado está patente o espírito propositadamente circular da coisa, como se ela se auto-justificasse, sendo em si uma peça coerente e estética, só necessitando disto para existir e ser REAL. Concebe-se a vida como uma obra estética per si. Quer dizer, já os Gregos o diziam. Já Nietzche o disse, porque não uma fartura?

É de quem não sente, é de quem não aspira, não sofre, não... vive. (e tal como a outra diria, como contrário de estar vivo é estar morto, fartura estando viva, talvez se tenha enganado no raciocínio....) just maybe ;).

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"para apreciar o momento e para deixar junto do nosso semelhante a melhor das impressões e assim ajudar a criar um mundo melhor…"
Esta é a mais bonita de todas. Vá lá, façam um sorriso, não é bonita? Quase merecia estar num diálogo de filmes de hollywood. Ou uma campanha de GWBush...
O que mais me impressiona nesta frase é a mais hipócrita das atitudes que alguém pode ter. A melhor das impressões???? Mas que merda? Fds se eu quisesse uma impressão tenho aqui uma HP que faz A3 e tudo. Ou então na escola, fazem até A0's. Impressão? É o que eu digo tás a ver? Smoke and mirrors. Coloca a tua máscara que eu coloco a minha, bora lá fazer um teatrozito engraçado. Bora lá divertirmo-nos.

No fundo o pos-modernismo resume-se a isso: é tudo um enorme entertainment. Talvez patrocinado pela Mc Donalds, desde que haja pipocas e farturas, tásse bem.

(Eu admito que não consigo deixar a minha própria máscara. Aliás, é necessário sermos humilhados para o conseguirmos. O mais estranho é então esse desejo de humilhação... será que somos masoquistas? Faz parte do teatro? Qual é o desejo maior do Homem? Talvez tenhas razão, talvez não seja bem a "felicidade".... talvez isso seja mais uma consequência do que uma razão - embora eu ainda faça um fincapé nisto, porque tenho pressentimentos - ... mas então qual é? Não é viver...)

Depois claro, vem o mais lindo, o mais óbvio, o mais pimba de todo o discurso... "Criar um mundo melhor". Fds, parece mais uma daquelas miss mundo a desejar "o fim da fome, o fim das guerras..." Quero lá saber dos merdolas que estão a morrer, eu quero é saber de mim!! Da minha "felicidade", como eu digo, da minha "vida", como fartura diz. Quase parece um repertório Comunista "... em favor da causa humanitária..." BALELAS.

"é essa a minha visão romântica da questão…. "
Tretas. O romantismo é uma neurose vinda de uma melancolia grave em que o Mundo se mergulhou. Tal como eu vejo há basicamente dois tipos de culturas neste mundo, com nuances claro:

A primeira é a de um enorme frenesi, em que se sente a máquina a andar, e ai de nós se a perdemos. "É mais uma volta, as crianças não pagam mas também não aaandam". Actividades de hobbies até workaholics, não se pode ter um momento de pausa. Momentos de pausa significam perdas de tempo (como se o tempo fosse uma coisa que se perdesse), vazios que nos lembrariam do vazio que existe no nosso coração. Significam que somos um zero à esquerda que ficou para trás, um idiota perdido em melancolias.

A segunda é a de uma enorme melancolia. Uma melancolia, segundo Freud, é uma doença que vem do nosso confronto com um trauma. Existem várias reacções. Uma delas é o luto, temporário. No entanto, se houver uma grande permanência deste tipo de sentimentos surge a melancolia, que se pode definir como uma permanência no passado, uma nostalgia de um tempo em que as coisas foram (ou são) melhores, sem nunca o serem no presente. No agora. Fica-se na fantasia, a suspirar por ela. Talvez venha, talvez não.

Quer dizer, é patológico. Se não sabemos viver a vida de acordo com o seu sentido, talvez por isso não sejamos felizes. Seja qual for o sentido da vida, ele existe no presente, tal como tu pressentes. No quotidiano. Na escrita. O objectivo do poeta é tentar arrancá-lo da vida, pois não existe só um, existem muitos, todos válidos. Todos o MESMO. Há quem lhe dê nomes, há quem se iluda a pensar que olhando ao espelho talvez o encontre. Há quem até pense que se pode acreditar em si próprio. Como se eu me bastasse a mim mesmo!!! Que ridículo, o meu coração deseja o infinito, é ser mais alto, é ser maior que os Homens, morder como beija, é ser mendigo e dar como quem seja, Rei do Reino de aquém e de além dor. É ter mil desejos e um esplendor, e não saber sequer que se dejesa, é ter cá dentro um astro que flameja, é ter garras e asas de condor.

É ter fome é ter sede de infinito.
É condensar um mundo num só grito.

Recomendo a leitura atenta (e perspicaz) do resto do poema para uma pista sobre o sentido da vida.

ATENÇÃO.
Todo este texto não é para te "ganhar", é para te chocar. Pressinto que a tua resposta é bem mais parecida com aquilo que tenho dito ultimamente do que o que tu próprio tens dito (embora n te dês conta). Escrevo isto para to esbofetear na cara, pois és meu amigo.

Um abraço!

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