segunda-feira, setembro 13, 2004

O erro de Zenão

Este é o testemunho do pêlo. É um testemunho feito da falta de espessura, incrustado na linearidade fractal da existência. Um testemunho de um entre muitos outros que partilham comigo este ser que sou, desde a borbulha que me formou até ao secar da fonte. Sei que tenho os dias contados, embora me escape à óbvia retórica de perguntar por quem. Nada a temer, nada a duvidar, só resta crescer em frente. Até ser cortado. Ou não.

No entanto, há algo em suspenso, há uma suspensão, há uma propensão para o eterno momento do efémero. Do inantingível. Como o que sou, nunca chegarei a ser quem me forma, sempre como potencial em que incarno, sou a essência em suspensão. E no entanto, há algo em movimento, Vento. Penteia-me numa brisa que eu desconstruo.

Desconstruir é ser como Zenão. Será que Zenão estava errado? Todos os pêlos dizem que sim, riem-se da ridicularidade dos seus pensamentos e evocam a sua inteligência mas nos meus olhos não lhes vejo mais características que as da sua pelosidade. Zenão dizia que a lebre nunca conseguiria apanhar a Tartaruga. A Lebre, por mais veloz que fosse, quando chegasse ao ponto onde a Tartaruga estava no início, já esta não estava lá, estava acolá. E em acolá a Lebre não apanhava a Tartaruga. E assim indefinidamente, decorrendo que à primeira seria impossível apanhar a segunda.

E eu digo que dois e dois são cinco. É verdade. Quando passo como uma bolina através dos corredores do Feira Nova, vejo esta realidade vezes sem conta, onde se eu comprar um mais um, não obtenho dois como ensinaram a mente do corpo que habito, mas sim três e algumas vezes até quatro.

Dizem que Zenão errou porque considerou que o tempo poderia ser infinitamente dividido em porções finitas. Zenão errou porque não compreendeu o infinito e perdeu-se na criação do infinitesimal. O pesadelo dessa criação atormenta ainda hoje os que se proclamam como racionais. Eu sou esse pesadelo, eu sou o Erro de Zenão incarnado!

Acreditem no que quiserem, em verdade vos digo, desde que isso seja coerente então faz sentido e pode ser arte, até podem acreditar que um pêlo fala, é verdade o que eu vos digo e bem podem como o outro masturbar-se intelectualmente: qui est veritas?

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