O centro é inabordável. Rogo-te essa indisposição, maldade que é por bem ou apenas por capricho. Digo-te apenas que sim, existe uma fórmula com duas expressões matemáticas que definem TUDO. E não estou a falar de idiotices abstractas.
Em relação à falta de rigor, não te contradigo a crítica. Todavia fico um pouco desiludido com a minha incapacidade de te chocar um pouco mais.
1. POOOEMA
Em relação à tabacaria, não podias ter escolhido melhor poema para o teu ponto. Toda a literatura moderna e pós-moderna está cheia de apocalipses, desespero total e angustiante, que nos faz perguntar de onde vem sequer energias para viver: "Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra".
Tanto faz. Desprezo pela própria vida e pela existência:
"Vivi, estudei, amei e até cri,E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.", ou
"Meu coração é um balde despejado".
Não queiras viver, não queiras estudar, amar ou crer. Tudo é falso, tudo é lixo que se despeja. Desprezo que se minora tanto ao seu ser como aos seus feitos, hipocritamente:
"Não, não creio em mim.Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?Não, nem em mim..."
O Pessoa bem tenta empurrar a sua vaidade para debaixo do tapete mas ela rebenta pelos seus poros como perfume de vaca no campo. A sua incrível inteligência é nada comparada com a vastidão do universo. So what? Mísero exercício de humildade, antes de desprezar os objectos alheios, chamando-lhes feitos e minorando-os em comparação com o seu próprio (im)potencial:
"Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu"
Coitado. Dêem-lhe um tiro. Não vês que isto é tudo patológico? Quer dizer, até ele o diz:
"E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto."
A única coisa que ele diz certo não diz, pensa. Para logo a seguir negar. E desesperar. Não há salvação, apenas morte.
Este poema resume muita coisa, consegue agarrar muito bem o "momento". Mas tens de ser mais inteligente que isto! QUE momento é este agarrado? Que tipo é este? O que é que estás a sentir ao vê-lo a escrever isto? É este Homem aquele a quem reconheces a maior das humanidades? É isto que queres "aprender"? Mas é que não há mais nada para além disto... (embora no poema ele QUASE salte para fora do próprio poema, quase salte para fora do curto-circuito em que se encontra, mas desiste. É a imagem de um braço a cair, a largar a corda de salvamento (que um bombeiro lançou ao náufrago)).
Muita coisa fica por escrever, por falta de talento e sabedoria.
2. MORALI
A moral é falsa e verdadeira, seja ela qual for. Sinceramente, tou-me a cagar para a questão pura e dura da "moral". Tal como gostas de dizer, ela é uma falsa questão. É um formalismo. Não é assim que as coisas se passam, o que existirá porventura são metodologias do viver. E estas são encontradas, segundo critérios.
O problema desde o Renascimento é a crise do "Critério". Donde ele vem? O que é? Qual o estado de espírito para o conceber, quais as condições para as ter? Será que existe algum estado "de graça" em que se consegue conceber um critério "exacto"? Claro que não. Existirá um que seja humanamente bom? Haaa.... Aliás, já estás a ficar para trás com uma pergunta ainda mais idiota: "Mas para quê sequer um critério?"
O critério é o conteúdo da moral. Forma e Essência, Forma Formante e Forma Formada. Forma que forma e Forma que é formada. Através da experiência da Forma, através da captação da sua essência. E volta a formar outra forma. Tradição. Renovação. Revolução? (Não.) Tudo isto faz sentido mas é um ciclo fechado. Requer um sentido. Requer uma razão de existência para "morais" existirem.
Sem essa razão tudo perde sentido. Não há razão hoje, e tudo está a perder o seu próprio sentido. As coisas estão a ficar estranhas ao seu próprio nome, o ruído está a apoderar-se da realidade, e todas as morais arrebatadas. As próprias palavras ESTÃO a desconstruir-se. A PERDER o seu próprio significado. Amanhã a segurança é sinónimo de liberdade, igualando opressão à liberdade. Existirá um ministério chamado "da Verdade" que promulgará mentiras. (não existe já? O que são os média?)
"Ma perché?" Essa deve ser a pergunta. A pergunta que salva. "mas porquê?" é a pergunta que nos faz seres humanos. Porque há de ser assim? (e porque não?...)
Essa é a pergunta que move o ser humano que não é estrangeiro ao seu nome, apenas o decide encontrar. Essa é a pergunta que faz o Homem esperar mais um dia. Agarrar a corda que o sustenta no limbo da realidade sustentável. À honestidade da sua procura surge a resposta.
O encontro.
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