Aqui ficam dois pequenos exemplos deste mestre:
"SINFONIA Nº2
Anton Mikhailovich escarrou, fez «ah», voltou a escarrar, fez outra vez «ah» e foi-se embora. Tanto pior para ele! Vou antes falar de Ilia Pavlovich.
Ilia Pavlovich nasceu em 1893, em Constantinopla. Pequeno ainda, levaram-no para S. Petersburgo, onde concluiu estudos na escola alemã da rua Kirochnaia. Depois trabalhou numa loja, depois fez outra coisa qualquer, e quando começou a revolução emigrou para o estrangeiro. Olhem, tanto pior para ele! Vou antes falar de Anna Ignatieva.
Mas falar de Anna Ignatieva não é assim tão simples. Começa por que não sei nada dela, e depois acabo de cair da cadeira e esqueci tudo quanto tinha para contar. Vou antes falar de mim.
Sou alto, não sou nada parvo, visto com elegância e gosto, não bebo, não vou às corridas mas tenho um fraco por mulheres. E as mulheres não fogem de mim. Gostam mesmo que dê passeios com elas. Serafina Izmailovna convidou-me mais do que uma vez para ir a casa dela, e Zinaida Iakolevna também costumava afirmar que tinha muito prazer em ver-me. Com Marina Petrovna é que se passou uma coisa divertida, que desejo contar. Uma coisa banalíssima mas ainda assim divertida. Marina Petrovna ficou completamente careca por minha causa, careca como um ovo. O facto deu-se desta forma: um dia fui a casa de Marina Petrovna, e ela «zás!», completamente careca. Só isto."
Ilia Pavlovich nasceu em 1893, em Constantinopla. Pequeno ainda, levaram-no para S. Petersburgo, onde concluiu estudos na escola alemã da rua Kirochnaia. Depois trabalhou numa loja, depois fez outra coisa qualquer, e quando começou a revolução emigrou para o estrangeiro. Olhem, tanto pior para ele! Vou antes falar de Anna Ignatieva.
Mas falar de Anna Ignatieva não é assim tão simples. Começa por que não sei nada dela, e depois acabo de cair da cadeira e esqueci tudo quanto tinha para contar. Vou antes falar de mim.
Sou alto, não sou nada parvo, visto com elegância e gosto, não bebo, não vou às corridas mas tenho um fraco por mulheres. E as mulheres não fogem de mim. Gostam mesmo que dê passeios com elas. Serafina Izmailovna convidou-me mais do que uma vez para ir a casa dela, e Zinaida Iakolevna também costumava afirmar que tinha muito prazer em ver-me. Com Marina Petrovna é que se passou uma coisa divertida, que desejo contar. Uma coisa banalíssima mas ainda assim divertida. Marina Petrovna ficou completamente careca por minha causa, careca como um ovo. O facto deu-se desta forma: um dia fui a casa de Marina Petrovna, e ela «zás!», completamente careca. Só isto."
"CADERNO AZUL Nº 10
Era uma vez um homem ruivo, sem olhos nem orelhas. Também não tinha cabelos, e só por convenção lhe chamávamos ruivo.
Não podia falar porque não tinha boca. E nariz também não.
Nem sequer tinha braços e pernas. Também não tinha barriga, nem coluna vertebral, nem mesmo entranhas. Não tinha coisa nenhuma! Por isso pergunto de quem estamos nós a falar.
Desta forma é preferível nada acrescentarmos a seu respeito."
Não podia falar porque não tinha boca. E nariz também não.
Nem sequer tinha braços e pernas. Também não tinha barriga, nem coluna vertebral, nem mesmo entranhas. Não tinha coisa nenhuma! Por isso pergunto de quem estamos nós a falar.
Desta forma é preferível nada acrescentarmos a seu respeito."
1 comentário:
Meu caro, isso é genial.
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