segunda-feira, outubro 15, 2007

Parem de pensar! Divirtam-se! (o que ganham em pensar tanto??)

"A rapariga? Uma bomba de explosão retardada. A família tinha-lhe deformado o subconsciente, sem dúvida alguma. Dei por isso ao consultar os seus boletins de escola. Não queria saber o como, mas o porquê das coisas. O que pode ser muito incómodo. A gente interroga-se sobre o porquê das coisas e, se se insiste, podemo-nos tornar muito infelizes. A pobrezinha está morta, e foi o melhor que lhe podia ter acontecido

(...)

É a fonte de todos os tormentos. Todo o homem capaz de desmontar um écran de televisão e de o tornar a montar - e, hoje, quase todos eles são capazes - é bem mais feliz que aquele que tenta medir, experimentar, pôr em equação o Universo, o que não pode ser feito sem que o homem tome consciência da sua inferioridade e da sua solidão. Eu sei-o. Experimentei. Tretas! Conclusão: agarremo-nos aos clubes, às reuniões. aos acrobatas, aos prestidgitadores, quebra-cabeças, carros a reacção, motogiro-planos, ao sexo e à heroína, tudo o que não obrigue senão a reflexos automáticos. Se a peça é má, se o filme não tem sentido, tomemos uma dose maciça de teremina, Considero-me sensível ao espectáculo desde que se trate apenas de uma reacção táctil às vibrações. Mas estou-me nas tintas e tudo o que desejo é um sólido passatempo.

(...)

O importante para ti, Montag, é lembrares-te que somos alegres foliões, tu, eu e os outros. Fazemos frente à maré daqueles que querem mergulhar o mundo na desolação, suscitando o conflito entre a teoria e o pensamento. Aguentemos. Não deixemos a torrente de melancolia e da triste filosofia afogar o nosso mundo. Contamos contigo. Não creio que dês conta da tua importância, da nossa importância para proteger o optimismo do nosso mundo actual"

in Fahrenheit 451; BRADBURY, Ray

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