Acabei de ler o livro "A Fórmula de Deus" do nosso Dan Brown Português, o José Rodrigues dos Santos. Não lhe chamo Dan Brown a pensar nos meios sujos e mentirosos que o americano usa para os seus próprios fins, mas porventura pelo estilo e pela mística envolta num mistério que apenas no último minuto se desvenda. Sem falar claro do eterno problema da criptografia, tema transversal a estes dois autores, pelos vistos. Matrioskas...
Gostava de dizer que o li num ápice. Não porque era bom, entenda-se. De facto, dei por mim a passar ao lado das descrições aborrecidas que mais dão a sensação de terem sido colocadas por enfado e obrigação do que contribuírem significativamente para a história. Todo o leitor menos distraído deve ter reparado na repetição amadora com que o escritor faz primeiro uma análise sensitiva de um espaço para depois, distraidamente, e como quem não quer a coisa, há alguém que lança uma pergunta no ar (ahh) "alguma vez esteve no Cairo?". Estupidificante. Mas enfim. O que é facto é que Rodrigues dos Santos é um jornalista inteligente, e o conteúdo filosófico / cientista / teológico do livro é suficientemente interessante para manter o leitor intrigado, com uma revelação sempre ao virar da página e uma cifra colocada pelo próprio Einstein, profeta dos tempos modernos.
Tem, no entanto, erros crassos. O primeiro é o de não olhar a meios para atingir os seus fins. A ideia de que a prova da existência de Deus existe é, em si, absurda. Mas mesmo que existisse, ela nunca poderia depender da "sorte da lotaria", seria estarmos a depender outra vez do "Deus das Lacunas". E este é precisamente o ponto fraco do livro, o ponto em que o autor concebe um cientista a proclamar que a prova é a sorte incrível que o universo tem em ter as constantes que tem. Todos menos um cientista, por favor. Qualquer cientista percebe que isto não prova nada.
Fala-se também do Princípio Antrópico, mas esquece-se o autor de referir a diferença entre o PA Forte e o PA Fraco, apresentando o Forte e não apresentando a contra-prova. Esquece-se o autor de referir que a experiência EPR, apesar de apresentar que as partículas estão em contacto directo entre si, também apresenta o facto de que Deus joga de facto aos dados. E não existe determinação possível sobre se o Universo é determinista ou não. Esta é uma crença de Einstein e descrita na Teoria da Relatividade, mas entra em confronto directo com a Física Quântica. É um problema ainda não resolvido.
Mas lá se entra em rodriguinhos, e depois não é bem uma prova. É uma fórmula que a Inteligência no Universo terá, no seu "endgame", de usar para recriar o universo, tornando-se Deus.
Por outro lado, a ideia de que a CIA se deixe entusiasmar pela imaginação de computadores a vaguear pela Galáxia e a proclamar a fórmula de Einstein pelos cantos do universo, quando o que está em causa são bombas atómicas e o Irão, é ridícula. Mas o que mais me enerva é o constante exercício de pastiche, collage, de ideias tão interessantes e tão mal coladas entre si, e aqui atinge-me o pico do desprezo pelo livro. Não pela imaginação louca do autor em referir "Construtores Automáticos" e "colonização das galáxias" e coisas do género, mas precisamente pela falta de imaginação que tal discurso encerra. Como se isto fosse uma novidade incrível. Como se o segredo de Einstein encerrasse uma password até hoje indescrita e espectacular. Como se Isaac Asimov não tivesse descrito exactamente esta história há exactamente cinquenta anos, com muitas menos palavras e um poder de síntese, esse sim, sinal de génio, e como se ninguém nunca a tivesse lido (The Last Question, novembro 1956).
Jornalistas... sempre a fazer-nos de parvos de modo a vender as suas histórias...
1 comentário:
concordo inteiramente contigo...
a principio este livro fascinou-me fez-me pensar em coisas q nunca tinha pensado.. só por isso achei q valia a pena ignorar os defeitos e as incorrecções do mesmo... mas depois de ler o isaac... mudei completamnete de opinião... cheira a fraude... e pior... no outro dia o jrs foi entrevistado na prova oral da antena 3... o topo metia dó... ñ conseguia explicar nada das suas teorias... limitava.se a repetir os exemplos apresentados no livro... um pouco como se ñ enetendesse muito bem o q estava a desbobinar... agora percebo.... isto é uma colectanea de autores compilada num livro interessante e muito bom para massas.... :P
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