Hoje, ao ligar a televisão, o fio enrolou-se em torno da minha perna boa. A que faz bem aos mendigos na rua e põe o lixo na reciclagem. A outra, a má, não partilha os rebuçados com ninguém e ri-se sem piedade das pessoas gordas que passam ao lado.
O fio, portanto, enrolou-se na perna mais doce. E arrancou-a pela coxa, arrastando-a em seguida para dentro da televisão.
É claro que fiquei desapontado mas, principalmente, fiquei surpreendido por não ter caído.
Foi nessa altura que vi que alguém me tinha atarrachado a perna má ao chão. Talvez o comando da televisão. Ou a dona da loja das gomas. Talvez o fio tenha sido um cúmplice, distraindo-me com o arrancar da perna boa.
Pior que estar atarrachado ao chão pela perna má é ter de ouvir os impropérios que ela não pára de lançar ao gordo que, de vez em quando, aparece na televisão.
Acreditem-me quando digo que a televisão faz mal à saúde.
[Há cerca de um ano... a ler demasiado Daniel Harms...]
3 comentários:
Verdade verdadinha?
É engraçado, ler-vos dá-me vontade de escrever, mas sinceramente, não faço ideia sobre o quê, a minha mente está vazia. O quotidiano não mo permite, e a forma da minha escrita é parva, nada sincera, não me dá gosto exprimir-me quando sei que não sinto o que escrevo.
Talvez daqui a uma década ou século me apeteça. Até lá fico-me a ler-vos...
começa pelas coisas parvas... liberta o entulho... com o tempo as ideias boas vão substituir o quotidiano...
é como o oleo das farturas..
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