Recordo dias em que sonhava de olhos fechados, hoje vivo dormente como se sofresse de uma falta de objectivos, de uma raiva miudinha: por ser vulgar; um desprezo pela anestesia que domina a minha vontade. A carne gulosa continua a almejar, a preguiça a espicaçar, a inveja e o orgulho a conduzir os desejos, mas a ira já não arde dentro de mim… sinto avareza para com os sentimentos, tudo me parece ridículo… o belo sublime parecem conceitos tão mundanos que me repugnam.. não consigo criar nada de verdadeiramente original, mas tb não o desejo, certamente já não tenho paixão por coisa alguma... alguns dias a única coisa que me move é a latência e o peso da rotina. Quero voltar a sentir-me uno com os dias de verão, desabrochar como as plantas na primavera, quero sentir de novo a luxúria de estar com os amigos que gulosamente me rodeiam, sentir orgulho em detalhes perecíveis, e invejar, oh sim… e voltar a invejar… seria formidável!! A inveja é o mais mundano sentimento humano depois do amor…
quinta-feira, março 30, 2006
quarta-feira, março 22, 2006
A garota de "ipanema"
Hoje ainda meio adormecido, e anestesiado pelo bagaço e sande(s) de coirato(s) q a taberneira me fiou como pequeno almoço, vejo ao meu lado a única moça a quem nunca consegui chamar gaiija, (feito notável para qualquer outro humano, leite morninho para este em particular). Sorrio, ligo o carro, dou os bons dias, e penso que somos uma manta de retalhos sociais.
Sigo os meu caminho para mais uma jorna de trabalho; mas fica uma sensação de divisão, como se levasse (ou fosse) dezenas de outras pessoas, divididas em pedacinhos e detalhes de momentos pequenos e sem importância de histórias grandes. (A estrada continua a nascer à minha frente, fujo para a frente… sempre em frente rumo ao nascer do sol...) São situações que o tempo caprichosamente descarta como passado, recordando apenas os momentos especiais, um pouco como fotografias desfocadas que guardamos por motivos sentimentais…
Ela seguiu, e eu pensei… curioso como um pequeno pedacinho de história nos pode afastar tanto, mas ao mesmo tempo fazer tanta falta... regras de moral desta sociedade…cheguei ao destino, desligo o motor, saio do carro, sigo o meu caminho... não há mais nada que eu possa fazer…
segunda-feira, março 20, 2006
domingo, março 12, 2006
E a noite começou
E a noite começou, tenho evitado um pouco escrever, mas com o cair da escuridão fica mais difícil evitar os silêncios, e as sombras tornam-se gigantes e o cérebro dispara com um motor de formula 1 em aquecimento para a grande corrida vida.
Sinto-me cansado das pessoas que me rodeiam, de toda a rotina uma rotina sem sentido, de ser um aprendiz de capitalista bem sucedido, esperam de mim, aquilo que bem lá no fundo eu sei q já o sou… palavras não fazem sentido, expectativas, é tudo uma questão de expectativas, não me interpretes mal, sei bem o que sou, quem sou, e quais são as minhas limitações. Trabalho faz agora pouco mais de 1,5 anos. Sou engenheiro, e não faço a mínima noção do que isso significa, pessoas tratam-me com respeito, algumas com admiração, a maioria com inveja, no entanto todos os dias me levanto com um sentido de injustiça na minha cabeça.
Caminho para o quarto de século, como alguém q me é mto querido dizia “começo a ter uma história” começo a ter capacidade para deixar a minha marca neste mundo. Todas as pessoas a minha volta se estão a tornar adultos, alguns casam, outros fazem planos a dois e planeiam filhos, compram casas e decidem o que querem e como querem estar daqui a 30anos. Mais do que todos esses contratos (um filho ñ deixa de ser um contrato a 20 anos) acho q essas pessoas implicitamente estão a decidir que marca querem deixar neste mundo. Com isto quero dizer que a maior parte das pessoas quer dizer q ñ decide coisa nenhuma e acaba por decidir ñ fazer coisa nenhuma. Alguns casam pq estão na idade, outros têm filhos pq o tempo não perdoa, e outros… outros ñ decidem e deixam q seja o acaso e a boa fortuna que os guie.
A verdade é q tenho 25 anos (mal feitos) e ainda ñ desisti de mudar o mundo. Todos os dias convivo com injustiça e ñ consigo aceitar que pessoas ñ explorem totalmente todas as suas capacidades, pessoas que simplesmente não têm disciplina para serem melhores, pessoas mesquinhas que não têm visão para crescerem e saírem da merda alegre que é as sua vida. Dizem que a uma pessoa basta ver satisfeita as suas ambições para ser feliz, devo ser bastante ambicioso pq vejo a felicidade estampada na cara de outras pessoas e definitivamente não é aquilo que quero para mim. Decidi deixar uma marca minha neste mundo. Abanar as suas estruturas e revolucionar a sua existência, mas lentamente estou a ser alterado pelas engrenagens silenciosas que o regem.
Hoje reli velhos textos de quando entrei para a faculdade. “ o ist é uma maquina trituradora de homens, primeiro retira-lhes a identidade, o nome próprio, atribuindo um estatuto, uma farda, um uniforme, deixamos de ser o Fonseca, o Rocha, o Abrantes e o Francisco e passamos a ser o Engenheiro, não importa o nome.. somos maquinas bem treinadas e oleadas, a vida ñ tem importância e as relações pessoais são meros acessórios, vão quebrar o meu espírito e eu vou adorar. Só espero que me torne numa pessoa melhor”
Sinto-me exactamente como me sentia naquela altura, sinto que mais uma vez me estão a quebrar, desta vez de uma forma mais definitiva, julgo que a palavra correcta deveria ser formatar, estão-me a formatar num empresário, numa pessoas consciente, já cheguei a ter 20 famílias a dependerem dos meus actos, se fizer muita asneira são eles que sofrem, se ñ as fizer… sou eu q ganho os louros. É estranho adaptar-me e este uniforme de gente grande, de ser o rei do meu castelo, de ter os meus pais a pedirem-me conselhos, qdo o normal seria o inverso. Mais uma vez estou a alterar a minha forma de ver o mundo, estou a descobrir que existem injustiças que não podem ser alteradas, e que no fundo, no fundo não são injustiças, e que determinadas igualdades também não podem ser comparadas, e que tudo, mas mesmo tudo é possível, e q apesar de tudo poder ser comprado, o dinheiro não paga tudo.
Dizem-me que a minha educação me eleva dos restantes mortais, todos os dias contacto com banqueiros, doutores, políticos, gente rica e poderosa, e falo qse sempre de igual para igual com eles, por outro lado muitas vezes encontro gente sem eira nem beira que vive como se tivesse o mundo na barriga. Antes de ir trabalhar para uma das zonas mais pobres do pais (a segunda) jamais acreditaria/aceitaria qdo me diziam que algumas pessoas valem mais do que outras… mas é a mais pura das verdades, sinto-me intelectualmente superior a algumas pessoas… e de certa forma isso envergonha-me… sempre me ensinaram que somos todos iguais... mas… algumas pessoas esforçam-se por serem menos iguais do que outras… é algo q é mto difícil de exteriorizar para qm ñ vive as situações, mas de facto se a sociedade se estratifica é mesmo pq é necessário essa estratificação, de facto nem todos podemos ser engenheiros nem arquitectos, nem médicos… é preciso uma massa de gente que sustente, uma das minhas ultimas descobertas obvias, é q pertenço a uma elite, uma classe que teve o privilégio de se poder instruir, uma série de gente que gosta de se instruir, que gosta de viajar, de ler, de ir ao cinema, e de conhecer um pouco melhor o que a rodeia. Nunca me apercebi que existia essa elite, sempre vi julgue toda a gente pelos meus parâmetros e valores perante a vida… acho q sempre vivi num berço dourado, rodeado por amigos cultos, eu q sou uma desgraça a português, nunca tive q ensinar pessoas da minha idade a ler, a falar, a ter hábitos de higiene básica. É chocante, mas é a mais pura das realidades.
Ter aceitado um trabalho a 75km da minha residência abriu-me alguns horizontes, faço parte de uma empresa com um crescimento exponencial, (para vocês colegas desta recém descoberta elite direi mais; uma verdadeira cash cow!) lido com este tipo de pessoas que desconhecia, e todos os dias aprendo coisas novas, por outro lado, estou longe das minhas raízes, deixei os meus amigos para trás, passo dias sozinho sem ninguém inteligente com que falar. Conheci o pais de lés a lés, visitei locais que de outra forma jamais o faria, entrei em contacto com um Portugal profundo multicultural que 99% das pessoas desconhece, posso com orgulho dizer que já comi numa taberna na provinciana freguesia de Martinlongo (um café, uma igreja, 20 casas desabitadas, 10 habitadas e mais recentemente um parque infantil) e no mais fino dos restaurantes de vila moura, e que isso mudou a minha forma de ver o mundo. Já comi fiado, paguei adiantado, comi em andamento, fui expulso de um banco, paguei cafés a inimigos mortais, e sobrevivi, mas criei uma pele que me transformou em indiferente.
Ontem tive a oportunidade de assistir a um por do sol que só posso descrever como deslumbrante, e para mim foi-me indiferente, hje passei a tarde com amigos… e foi-me indiferente… não sei… desejo ardentemente qq coisa que não consigo descrever. Algo mais, transcender-me. ser maior do que a própria vida.. Talvez a forma de deixar a minha marca neste mundo. Sim deve ser isso… só pode…
Sinto-me cansado das pessoas que me rodeiam, de toda a rotina uma rotina sem sentido, de ser um aprendiz de capitalista bem sucedido, esperam de mim, aquilo que bem lá no fundo eu sei q já o sou… palavras não fazem sentido, expectativas, é tudo uma questão de expectativas, não me interpretes mal, sei bem o que sou, quem sou, e quais são as minhas limitações. Trabalho faz agora pouco mais de 1,5 anos. Sou engenheiro, e não faço a mínima noção do que isso significa, pessoas tratam-me com respeito, algumas com admiração, a maioria com inveja, no entanto todos os dias me levanto com um sentido de injustiça na minha cabeça.
Caminho para o quarto de século, como alguém q me é mto querido dizia “começo a ter uma história” começo a ter capacidade para deixar a minha marca neste mundo. Todas as pessoas a minha volta se estão a tornar adultos, alguns casam, outros fazem planos a dois e planeiam filhos, compram casas e decidem o que querem e como querem estar daqui a 30anos. Mais do que todos esses contratos (um filho ñ deixa de ser um contrato a 20 anos) acho q essas pessoas implicitamente estão a decidir que marca querem deixar neste mundo. Com isto quero dizer que a maior parte das pessoas quer dizer q ñ decide coisa nenhuma e acaba por decidir ñ fazer coisa nenhuma. Alguns casam pq estão na idade, outros têm filhos pq o tempo não perdoa, e outros… outros ñ decidem e deixam q seja o acaso e a boa fortuna que os guie.
A verdade é q tenho 25 anos (mal feitos) e ainda ñ desisti de mudar o mundo. Todos os dias convivo com injustiça e ñ consigo aceitar que pessoas ñ explorem totalmente todas as suas capacidades, pessoas que simplesmente não têm disciplina para serem melhores, pessoas mesquinhas que não têm visão para crescerem e saírem da merda alegre que é as sua vida. Dizem que a uma pessoa basta ver satisfeita as suas ambições para ser feliz, devo ser bastante ambicioso pq vejo a felicidade estampada na cara de outras pessoas e definitivamente não é aquilo que quero para mim. Decidi deixar uma marca minha neste mundo. Abanar as suas estruturas e revolucionar a sua existência, mas lentamente estou a ser alterado pelas engrenagens silenciosas que o regem.
Hoje reli velhos textos de quando entrei para a faculdade. “ o ist é uma maquina trituradora de homens, primeiro retira-lhes a identidade, o nome próprio, atribuindo um estatuto, uma farda, um uniforme, deixamos de ser o Fonseca, o Rocha, o Abrantes e o Francisco e passamos a ser o Engenheiro, não importa o nome.. somos maquinas bem treinadas e oleadas, a vida ñ tem importância e as relações pessoais são meros acessórios, vão quebrar o meu espírito e eu vou adorar. Só espero que me torne numa pessoa melhor”
Sinto-me exactamente como me sentia naquela altura, sinto que mais uma vez me estão a quebrar, desta vez de uma forma mais definitiva, julgo que a palavra correcta deveria ser formatar, estão-me a formatar num empresário, numa pessoas consciente, já cheguei a ter 20 famílias a dependerem dos meus actos, se fizer muita asneira são eles que sofrem, se ñ as fizer… sou eu q ganho os louros. É estranho adaptar-me e este uniforme de gente grande, de ser o rei do meu castelo, de ter os meus pais a pedirem-me conselhos, qdo o normal seria o inverso. Mais uma vez estou a alterar a minha forma de ver o mundo, estou a descobrir que existem injustiças que não podem ser alteradas, e que no fundo, no fundo não são injustiças, e que determinadas igualdades também não podem ser comparadas, e que tudo, mas mesmo tudo é possível, e q apesar de tudo poder ser comprado, o dinheiro não paga tudo.
Dizem-me que a minha educação me eleva dos restantes mortais, todos os dias contacto com banqueiros, doutores, políticos, gente rica e poderosa, e falo qse sempre de igual para igual com eles, por outro lado muitas vezes encontro gente sem eira nem beira que vive como se tivesse o mundo na barriga. Antes de ir trabalhar para uma das zonas mais pobres do pais (a segunda) jamais acreditaria/aceitaria qdo me diziam que algumas pessoas valem mais do que outras… mas é a mais pura das verdades, sinto-me intelectualmente superior a algumas pessoas… e de certa forma isso envergonha-me… sempre me ensinaram que somos todos iguais... mas… algumas pessoas esforçam-se por serem menos iguais do que outras… é algo q é mto difícil de exteriorizar para qm ñ vive as situações, mas de facto se a sociedade se estratifica é mesmo pq é necessário essa estratificação, de facto nem todos podemos ser engenheiros nem arquitectos, nem médicos… é preciso uma massa de gente que sustente, uma das minhas ultimas descobertas obvias, é q pertenço a uma elite, uma classe que teve o privilégio de se poder instruir, uma série de gente que gosta de se instruir, que gosta de viajar, de ler, de ir ao cinema, e de conhecer um pouco melhor o que a rodeia. Nunca me apercebi que existia essa elite, sempre vi julgue toda a gente pelos meus parâmetros e valores perante a vida… acho q sempre vivi num berço dourado, rodeado por amigos cultos, eu q sou uma desgraça a português, nunca tive q ensinar pessoas da minha idade a ler, a falar, a ter hábitos de higiene básica. É chocante, mas é a mais pura das realidades.
Ter aceitado um trabalho a 75km da minha residência abriu-me alguns horizontes, faço parte de uma empresa com um crescimento exponencial, (para vocês colegas desta recém descoberta elite direi mais; uma verdadeira cash cow!) lido com este tipo de pessoas que desconhecia, e todos os dias aprendo coisas novas, por outro lado, estou longe das minhas raízes, deixei os meus amigos para trás, passo dias sozinho sem ninguém inteligente com que falar. Conheci o pais de lés a lés, visitei locais que de outra forma jamais o faria, entrei em contacto com um Portugal profundo multicultural que 99% das pessoas desconhece, posso com orgulho dizer que já comi numa taberna na provinciana freguesia de Martinlongo (um café, uma igreja, 20 casas desabitadas, 10 habitadas e mais recentemente um parque infantil) e no mais fino dos restaurantes de vila moura, e que isso mudou a minha forma de ver o mundo. Já comi fiado, paguei adiantado, comi em andamento, fui expulso de um banco, paguei cafés a inimigos mortais, e sobrevivi, mas criei uma pele que me transformou em indiferente.
Ontem tive a oportunidade de assistir a um por do sol que só posso descrever como deslumbrante, e para mim foi-me indiferente, hje passei a tarde com amigos… e foi-me indiferente… não sei… desejo ardentemente qq coisa que não consigo descrever. Algo mais, transcender-me. ser maior do que a própria vida.. Talvez a forma de deixar a minha marca neste mundo. Sim deve ser isso… só pode…
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